I SÉRIE — NÚMERO 15
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O Sr. Álvaro Castello-Branco (CDS-PP): — O que se verifica nestas propostas, como em muitas outras,
para além de reversões de tudo quanto foi feito — e bem feito — pelo anterior Governo, é uma radicalização do
ponto de vista ideológico, mas que não corresponde depois, na prática, aos interesses da população e ao
impacto nas suas vidas.
Ao contrário do que pretendem fazer crer — esconder mesmo! —, a lei de 2012, a tal que prevê a atualização
das rendas, prevê também uma proteção para os arrendatários de maior carência económica com 65 ou mais
anos de idade ou portadores de deficiência igual ou superior a 60%. Como bem sabem, a lei prevê que, no final
do período transitório, o Estado, através de um subsídio de renda, pague a diferença entre o valor da renda
atualizado e o valor da renda que o arrendatário poderá pagar, atendendo à sua situação económica. E é ao
Estado, Srs. Deputados, que incumbe a proteção do direito de todos a uma habitação condigna a preços
acessíveis, não é aos senhorios.
Esta iniciativa do PCP, que ainda vai mais longe do que a apresentada há meses pelo Partido Socialista,
meio encapotada na proteção das lojas históricas, pretende que sejam os particulares a continuar a suportar os
custos da habitação da população com menores rendimentos. Não pretende, esta iniciativa, a proteção dos
arrendatários mais desfavorecidos, idosos ou portadores de deficiência mas, sim, criar instabilidade e originar
desigualdades e injustiças sociais. Os particulares, classe média e reformados, que resolveram investir no
mercado imobiliário para usufruírem de um rendimento, nomeadamente na sua reforma, que pouparam durante
anos, serão chamados a pagar, em vez do Estado, a proteção social da habitação, para além do número elevado
de pessoas e de famílias na condição de proprietários de habitações que não dispõem de meios para suportarem
os respetivos custos com impostos, condomínios, seguros e obras de conservação. São todas estas pessoas
que serão visadas, caso estas alterações aqui propostas sejam aprovadas. Assim, o que estas alterações têm
subjacente é uma grande poupança do Estado à custa dos senhorios.
Srs. Deputados, com esta alteração ao regime do arrendamento, a que chama de cirúrgica, o PCP traz aqui
uma velha receita que foi experimentada durante décadas e que já provou estar errada. Os últimos Censos, de
2011, mostraram que existem em Portugal 700 000 fogos devolutos, 1 milhão de fogos degradados, 80% da
população em habitação própria, apenas 20% em mercado de arrendamento e 10% do volume de negócios da
construção civil alocada à reabilitação urbana, quando a média europeia é de 30%. Por outro lado, o
endividamento do País e das famílias, em resultado do crédito à aquisição de casa própria, multiplicou-se quase
por seis, no período de 30 anos, que mediou entre os Censos de 1981 e os de 2011.
Assim, não podemos, nunca, concordar com reversão de reformas, que foram bem feitas e que eram
necessárias e urgentes, para voltar à mesma política de congelamento de rendas que levou o País à situação
que todos conhecemos e que, como dizia o Sr. Deputado Nuno Magalhães, foi apanágio do Estado Novo.
Não contem connosco para que, dificultando os despejos dos incumpridores, prejudiquem os inquilinos
cumpridores e de menores recursos com dificuldade de acesso ao mercado de arrendamento. Do que as
pessoas, senhorios e inquilinos, necessitam é de um mercado de arrendamento que ofereça uma resposta
efetiva, concreta e acessível às suas necessidades e celeridade da justiça na resolução de litígios. Do que o
mercado do arrendamento necessita é de estabilidade de políticas e de uma aposta forte na reabilitação do
nosso parque habitacional e na recuperação das nossas cidades.
É ao Estado que cabe assegurar o cumprimento do direito constitucional de todos a uma habitação condigna.
É ao Estado que cabe promover medidas de proteção aos mais carenciados, nomeadamente no que toca à
habitação. É ao Estado que cabe a tarefa de promoção e de apoio à reabilitação e regeneração das nossas
cidades.
Tudo isto é incumbência e missão do Estado, e não dos senhorios ou dos particulares. Por isso, Srs.
Deputados do PCP, não poderemos acompanhá-los na demagogia que é a apresentação deste projeto de lei à
Assembleia da República, prática a que, aliás, estamos habituados.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Nunca vi o CDS tão estatizante como hoje! É uma fúria estatizante do CDS!