29 DE NOVEMBRO DE 2016
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Passados, aproximadamente, 15 anos verifica-se que, dos 308 municípios portugueses, apenas 180 têm
centros de recolha oficial de animais e, destes, apenas uma parte cumpre com os requisitos legais para o
alojamento de animais, existindo muitos outros que necessitam de obras de reestruturação.
Mas perguntam os portugueses: por que razão existem tantos e tantos municípios que não têm um canil
minimamente decente que garanta um tratamento digno aos animais, como é o caso da cidade do Porto, gerida
por um executivo que trata os animais como lixo?
Perguntam os portugueses: nos municípios há dinheiro para tudo e mais alguma coisa e não há dinheiro para
implementar políticas públicas de proteção animal?
Há dinheiro nos municípios para a construção e reabilitação de praças de touros, que alguns designam de
centros culturais; há dinheiro nos municípios para construção de pistas de corridas de galgos, que uns designam
de atividade desportiva; há dinheiro nos municípios para aparatosas iluminações de Natal; há dinheiro nos
municípios para cabazes de Natal, que são distribuídos por quem deles não necessita; há dinheiro nos
municípios para a construção de piscinas de ondas; há dinheiro nos municípios para almoços e jantares-
convívios com lembranças no final; há dinheiro nos municípios para luxuosas festas de muitas centenas de
milhares de euros; há dinheiro nos municípios para grandiosos fogos-de-artifício; há dinheiro nos municípios
para programas municipais de atração de investimento, que servem para justificar muitos investimentos errados;
há dinheiro nos municípios para a construção de rotundas com aparatosas fontes luminosas e arte de mau gosto;
há dinheiro nos municípios para obras de necessidade duvidosa. Há dinheiro nos municípios para tudo isto e,
espante-se!, em muitos casos, em autarquias intervencionadas, e não há dinheiro nos municípios para construir
um simples canil e para se adotarem políticas de proteção animal?! Não há? Há! Claro que há, mas muitos
presidentes de câmara e muitos vereadores continuam a recusar-se a fazer investimentos em infraestruturas e
em políticas que são uma exigência dos portugueses.
Muitos executivos, como é o caso perturbante e preocupante do Porto, continuam a não acompanhar a
alteração de consciências e a evolução civilizacional que se opera em Portugal.
Fala-se muito da questão do défice, mas há muitos casos ao nível da gestão local em que se nota que existe
muito descuido e preocupação com o imediato, com encargos públicos que não têm retorno útil para os cidadãos.
Esta é uma medida que chega pela mão do PAN e que o Governo acolhe por considerar que é seu dever dar
consequência à lei e por querer, neste Orçamento, escrever conjuntamente mais um capítulo na história da
proteção e dos direitos dos animais em Portugal.
E porque este passo civilizacional não é só uma responsabilidade política, mas, sobretudo, uma emancipação
ética deste Parlamento, estamos certos de que todos grupos parlamentares irão unanimemente acompanhar
esta medida.
Aplausos do BE e da Deputada do PS Rosa Maria Albernaz.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Joana Mortágua.
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, o Bloco de Esquerda trouxe a este
Orçamento um conjunto de propostas sobre a escola pública e o apoio às famílias que têm filhos e filhas na
escola pública.
Apresentámos um conjunto de medidas de resposta social em relação às cantinas. Achamos que são
resposta de emergência social que as cantinas das escolas podem dar, durante o período de férias, à qualidade
das refeições nas cantinas, bem como algumas outras medidas que considerámos urgentes.
Apresentámos também duas outras propostas, que agora decidimos avocar, porque consideramos que todas
as bancadas merecem uma oportunidade para refletir um pouco melhor sobre elas para conseguirmos
unanimidade. São reivindicações antigas das famílias e correspondem a matérias de justiça, tendo uma delas a
ver com os manuais escolares.
Este Governo, para garantir a gratuitidade do acesso à educação, para garantir o cumprimento da
Constituição, tomou uma das medidas mais importantes dos últimos anos, que foi a da gratuitidade dos manuais
escolares do 1.º ciclo. Esta é uma medida muito importante, que nós queremos que seja progressiva e que
apanhe todos os ciclos de ensino, mas, enquanto isso não acontece, e apesar do congelamento do preço dos
manuais escolares, que foi outra conquista desde Governo, os manuais escolares continuam a ter um peso