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I SÉRIE — NÚMERO 41

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De facto, é essencialmente no plano multilateral que as nossas atenções devem estar hoje concentradas,

nomeadamente nos desafios e nas ameaças que pairam sobre a Europa e o mundo.

Nestas dimensões, independentemente das cores políticas dos governos, os nossos interesses estratégicos

são comuns e, como tal, é em conjunto que devem ser defendidos. Na União Europeia, na NATO, no Conselho

da Europa, na UIP, no espaço Ibero-americano, nas Nações Unidas, a união faz a força!

Precisamos mais do que nunca de organizações internacionais fortes e credíveis. É grande a esperança dos

nossos povos no mandato do novo Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, e

foi muito relevante o apoio ativo de Espanha à sua candidatura.

Majestades, Minhas Senhoras e Meus Senhores: Há 16 anos esteve, nesta mesma Sala, a intervir perante

os Deputados à Assembleia da República, D. Juan Carlos.

Dezasseis anos depois é a vez de Sua Majestade o Rei D. Felipe, um conhecedor desta Assembleia da

República, pois, tal como a Rainha D. Letizia, esteve aqui na anterior Legislatura, em 2012 e 2014, e mais

recentemente por ocasião da tomada de posse do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Dezasseis anos não é muito tempo na história secular dos nossos Países, mas estes foram, de facto, 16 anos

que mudaram a nossa Europa e o nosso mundo.

Vivemos hoje num ambiente estratégico internacional completamente diferente. O terrorismo e o

ciberterrorismo ganharam uma nova dimensão global. Proliferam os Estados falhados, as guerras civis, o drama

humano dos refugiados aqui ao lado, no nosso bem conhecido Mediterrâneo. Por outro lado, o aquecimento

global tornou-se um problema incontornável e uma prioridade inadiável.

São problemas globais que exigem uma resposta global. São desafios comuns que exigem mais cooperação

entre os Estados, a começar por Estados amigos como Portugal e Espanha. É o momento de preferirmos o

otimismo das vontades e da determinação, em vez de embarcarmos no pessimismo e no fatalismo.

Minhas Senhoras e Meus Senhores: Há 16 anos, a União Económica e Monetária ainda estava a dar os

primeiros passos. As economias ibéricas estavam a adaptar-se ao impacto do alargamento da Europa a leste,

da abertura comercial à Ásia e da integração nas regras da moeda única, quando sofreram o efeito da maior

crise financeira dos últimos 80 anos.

A União Europeia respondeu de forma tardia e insuficiente, deixando que a crise financeira se transformasse

numa crise das dívidas soberanas com consequências muito graves nos sistemas políticos, sociais e financeiros.

A resposta muito insuficiente da União Europeia deixou-nos impacientes no caso das sanções e muito

preocupados no caso dos refugiados.

Estivemos unidos na condenação da hipótese de sanções contraproducentes e injustas aos nossos países.

Estivemos e estamos solidários com a causa humanitária dos refugiados.

Portugal e Espanha têm o privilégio de não terem partidos xenófobos com representação parlamentar. Apesar

de tudo, ainda somos das opiniões públicas mais favoráveis ao projeto de construção europeia. Temos a

autoridade e o dever de batalhar em conjunto para que a União Europeia volte a ser o fator de paz e

desenvolvimento de que o mundo precisa.

É nas grandes dificuldades que os grandes projetos se afirmam.

Acreditamos que o melhor da Europa ainda está para vir e que depende da determinação e da vontade.

Majestades, Minhas Senhoras e Meus Senhores: Os inimigos da sociedade aberta estão de novo à espreita.

O medo está hoje a envenenar a relação entre os Estados e também o funcionamento das democracias. A

propósito do medo, recordemos as sábias palavras de Cervantes, quando passam 400 anos da sua morte: «Um

dos efeitos do medo é perturbar os sentidos e fazer com que as coisas não pareçam o que são».

A ordem internacional das últimas décadas assentou em grande medida no cosmopolitismo e no

multilateralismo.

O medo é hoje o motor do protecionismo, da xenofobia e do isolacionismo. Estamos perante o mais sério

desafio ao mundo que nasceu do fim da Guerra Fria.

A melhor defesa desse mundo não se fará fazendo de conta que tudo está bem, porque, como dizia outro

grande nome da cultura espanhola, Miguel de Unamuno, «o homem vive de razão e sobrevive de sonhos».

Trata-se de devolver a esperança às pessoas. Esperança numa vida melhor para cada um, para os nossos filhos

e netos.

Combater a desigualdade social, regular a mundialização e devolver a confiança dos cidadãos na democracia

têm de ser cada vez mais as prioridades de todos os democratas.