4 DE FEVEREIRO DE 2017
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Mas, Sr.ª Ministra, quero dizer-lhe que ambos sabemos — e os Deputados que se debruçaram sobre esta
matéria também sabem —, que poucas leis virão a ter tanta importância como esta no modo como nos
organizamos como sociedade. É um passo discreto, porém muito relevante, para o combate à criminalidade
económica e financeira e para a construção de uma sociedade mais sã.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Vânia Dias da Silva, do Grupo
Parlamentar do CDS-PP.
A Sr.ª Vânia Dias da Silva (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Secretário de Estado dos
Assuntos Parlamentares, Sr.ª Ministra, quero, antes de mais, cumprimentá-los.
Sr.ª Ministra, a criminalidade organizada, cada vez mais transnacional, no mundo globalizado em que
vivemos, é um fenómeno que, obviamente, urge combater e que, apesar dos instrumentos e dos mecanismos
já existentes, e que até já são robustos em Portugal, são ainda insuficientes, não só sob a perspetiva da
responsabilidade penal dos agentes, mas, sobretudo, insuficientes na apreensão, recuperação e administração
dos bens apreendidos.
Esta questão assume tanto maior importância quanto a dimensão destas organizações ultrapassam
fronteiras, sendo preciso uma resposta que imponha a aproximação dos quadros jurídicos e das regras jurídicas
e a cooperação internacional.
De resto, é público que há casos em que isso mesmo acontece e que, por vicissitudes várias, por falta de
provas, por falta de aproximação de regras jurídicas e falta de troca de informações, há alguma impunidade
nestas questões, que por vezes, impera, pelo que é importante travar este fenómeno. E esperamos que este
quadro jurídico seja mais robusto e mais eficaz nessa matéria.
Porém, e apesar de tudo, Sr.ª Ministra, esta é uma matéria complexa e que envolve vários atores políticos,
envolvendo, também, a adaptação do Direito interno em 11 diplomas legais, alteração esta que não é,
propriamente cirúrgica nem despicienda.
Por isso, queria deixar-lhe aqui uma estranheza, Sr.ª Ministra. Vai sendo hábito — de resto, um mau hábito
— que o Governo traga a esta Câmara legislação onde se menciona terem sido consultadas variadíssimas
entidades e depois não nos dar a conhecer o que dizem essas mesmas entidades. Não é despiciendo, volto a
dizer, os Deputados não saberem o que dizem essas entidades, porque a matéria não é de somenos. É
importante percebermos o que dizem essas entidades.
Essa era a pergunta que lhe deixava, Sr.ª Ministra: o que disseram essas entidades e o que é que apontaram?
Que críticas fizeram? Que sugestões apresentaram? É que, francamente, não é uma coisa que nos pareça muito
curial passarmos cheques em branco ao Governo.
De resto, Sr.ª Ministra, gostava de lhe dizer também que o Gabinete de Recuperação de Ativos e o Gabinete
de Administração de Bens são entidades que, seguramente, têm de existir — e existem bem —, mas quero
deixar-lhe uma dúvida: não seria mais fácil juntar os dois gabinetes numa só unidade? Se calhar não é, mas
gostava de saber porquê. Em Espanha, por exemplo, há só uma unidade e, portanto, gostava de perceber
porque é que isso não seria mais fácil. Até porque, neste caso, há dados sensíveis, que revelam a vida das
pessoas, e os arguidos, apesar de serem arguidos, também têm direitos e garantias.
Era, pois, importante percebermos se não seria melhor ser uma só entidade a tratar destes assuntos.
Finalmente, Sr. Presidente, para terminar, há propostas de regulamento, do Parlamento Europeu e do
Conselho Europeu, que estão em cima da mesa e que tratam exatamente desta matéria, no sentido de alargar
ainda mais este âmbito. O que eu gostava de perceber, Sr.ª Ministra, é se esta legislação tem já isso em atenção
ou se não haverá futuras incompatibilidades que nos levarão novamente a tentar alterar esta legislação.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe, do Grupo
Parlamentar do PCP.