I SÉRIE — NÚMERO 62
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Uma conferência pública deve ser um ato não-violento. O espaço universitário é, por excelência, o das ideias,
da diversidade e do pluralismo. O Professor Nogueira Pinto é um académico e um interveniente político
reconhecido, cuja intervenção pública deve ser respeitada e decorrer sempre em condições de tranquilidade.
Em linha com estes princípios, a Reitoria da Universidade Nova veio clarificar em comunicado que «a
conferência foi adiada para que o tema possa ser debatido de uma forma alargada e objetiva num clima sereno
e em condições de completa abertura e diálogo plural».
Será sem dúvida discutível a opção da Direção da Faculdade pela inibição do evento em vez de impor
imediatamente condições normais para a sua realização, mas é evidente que se registaram intenções e factos
absolutamente inadmissíveis por parte dos promotores da conferência e do grupo a eles associado.
A Assembleia da República reafirma o princípio da autonomia universitária e da liberdade académica e
condena veementemente:
Os obstáculos colocados à normal realização de uma conferência do Professor Jaime Nogueira Pinto;
A tentativa de utilização de uma conferência em espaço universitário para a mobilização de uma milícia de
extrema-direita com alegadas funções de segurança;
A invasão de instalações académicas e associativas por um grupo de extrema-direita e a tentativa de
intimidação de dirigentes associativos eleitos;
Todas as formas de limitação à liberdade de expressão, consagrada na Constituição da República.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos votar o voto n.º 249/XIII (2.ª) — De condenação pelo
cancelamento de conferência na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas na Universidade Nova de Lisboa
(CDS-PP).
Submetido à votação, foi aprovado, com votos a favor do PSD, do CDS e de 4 Deputados do PS (António
Gameiro, Helena Roseta, Miranda Calha e Vitalino Canas), votos contra do BE, do PCP e de Os Verdes e
abstenções do PS e do PAN.
É o seguinte:
O País tomou conhecimento, pela comunicação social, que uma conferência marcada para o dia 7 de março,
na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa, e que tinha como
convidado o historiador e académico Jaime Nogueira Pinto, foi cancelada devido a alegadas pressões contra os
oradores e a entidade responsável pela organização.
As ameaças, segundo essas notícias, foram feitas por alunos daquela faculdade aos participantes na
conferência — que tinha como título Populismo ou Democracia: O Brexit, Trump e Le Pen, terão estado na
origem da decisão tomada pela Direção em cancelar o evento.
Esta decisão terá sido tomada depois de numa Reunião-Geral de Alunos ter sido aprovada uma moção
apresentada pela Associação de Estudantes (AEFCSH) contra a palestra, que qualificou de «um evento
associado a argumentos colonialistas, racistas e xenófobos».
A AEFCSH terá depois apelado à Direção da FCSH para não ceder a sala onde iria decorrer o debate.
Segundo notícias divulgadas, os promotores da conferência — e o próprio orador convidado - dizem respeitar
«a preocupação da direção com a segurança de todos os interessados», mas discordam da decisão em cancelar
a conferência.
Estes factos ocorridos em ambiente académico, no âmbito de uma conferência para a qual foram convidados
professores universitários, discorde-se ou concorde-se com as suas posições, não deixa de constituir, a nosso
ver, uma grave limitação à liberdade de expressão e ao debate no meio académico público, que, ao contrário,
deveria ser o primeiro a incentivar a diversidade de opiniões e a discussão livre e plural de ideias.
Independentemente dos organizadores e oradores, este parece não ser um caso isolado de limitação à
liberdade de expressão na FCSH da Universidade Nova de Lisboa, pois, de acordo com declarações à imprensa
do orador convidado para a palestra, Jaime Nogueira Pinto, «já há tempos [alunos da FCSH] entraram aos
berros numa conferência da embaixadora de Israel».
A Assembleia da República considera grave e preocupante qualquer limitação à liberdade de expressão,
para mais quando esta ocorre num espaço que deve ser, por natureza, de liberdade, pluralismo e de debate de