17 DE MARÇO DE 2017
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Uma terceira questão muito breve: num processo de transferência de competências, para que ele seja
participativo e verdadeiramente democrático, temos de envolver as várias entidades e associações do nosso
País. A questão que coloco ao Sr. Ministro é a de saber, relativamente a esta matéria, que discussões foram
feitas no conjunto dos setores, o que, aliás, aparece na proposta do próprio Governo.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder Amaral.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, esta matéria é séria, muito relevante e o CDS
gostaria de dar o seu contributo. Aliás, parece que é por demais evidente que, como dizia a bancada do Partido
Socialista, esta é uma reforma desejada e planeada.
Quanto a ser desejada, tenho tendência a concordar, até porque o CDS aparentou propostas, o Partido Social
Democrata apresentou propostas e, pelo que tenho ouvido, os Deputados de todas bancadas têm, de uma forma
ou de outra, sugestões e muitas dúvidas sobre a matéria. Porém, que esta reforma seja planeada é que eu já
tenho a maior das dúvidas e é sobre isto que eu me queria concentrar. É que, se é verdade que o CDS concorda
com a descentralização – é evidente que sim, nós desejamo-la –, não queremos é nenhum tipo de
regionalização, seja ela encapotada ou não encapotada.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Portanto, a qualquer tentativa de uma regionalização de forma
encapotada, o CDS não dará o seu consentimento.
Porém, em relação às matérias de descentralização, que tenham como princípio, como o Sr. Ministro dizia e
bem, a proximidade da decisão, uma coerência entre os vários poderes, essencialmente segurança jurídica,
clareza, certeza e, acima de tudo, uma eficácia dos serviços prestados ao cidadão, o CDS diz «sim».
Portanto, precisamos de saber exatamente do que é que estamos a falar o sobre o que vamos trabalhar,
nomeadamente temos de saber quais são as áreas. Também parece evidente – aliás, todas as bancadas fizeram
perguntas sobre isso – querer saber qual o tipo de financiamento que estas novas competências vão ter. Qual
é o financiamento? Porque transferir para as autarquias — e não vou tão longe dizendo que o Governo quer
transferir para as autarquias aquilo que incomoda ou aquilo que não lhe dá jeito, vou acreditar que vamos
aproveitar a experiência instalada de 40 anos de poder local,…
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — … vamos aproveitar, inclusivamente, erros, sobreposições e
incompatibilidades de algumas competências em variadíssimas áreas, e há algumas que no documento não
estão claras, desde logo a gestão do património… A proposta refere «todo e qualquer património classificado
no município…» Mas qual? Todo? De âmbito municipal, nacional…? Quer interfere onde? Quem interfere o quê?
Quem dispõe o quê?
Também já aqui foram colocadas questões sobre os contratos interadministrativos ou até de avaliação de
imóveis. Como é que isso será feito?
Mas eu até poderia ir mais longe. Sr. Ministro, como foi agora dito pelo PCP, e também queremos subscrever
isso: como é que podemos discutir esta matéria de forma séria, de forma coerente, de forma perene — porque
não podemos nesta matéria, quer seja em termos de educação, de ação social, de saúde estar sempre em
experimentalismos nem há razão para isso — sem estudos?
Diz a Associação Nacional de Municípios Portugueses que não tem estudos. O Sr. Ministro criou alguns
grupos de estudos específicos. Onde é que estão os documentos? Onde é que estão as conclusões? Como é
que se compatibiliza com as CCDR (Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional)? O Sr. Ministro
tinha uma ideia, recuou nessa ideia e hoje não sabemos exatamente o que é que se vai fazer na eleição, na
transparência das CCDR. Como é que ficam as competências intermunicipais? Como é que elas se conjugam
com as dos municípios?