18 DE MARÇO DE 2017
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da União Europeia e por nos integrarmos neste bloco comercial aberto à economia global que teremos mais
oportunidades de desenvolvimento económico e de prosperidade. Fecharmo-nos ao mundo não é a resposta
certa, nem faz parte da vocação do nosso País.
É também por reconhecermos a importância de a nossa economia se manter nesta trajetória positiva de
crescimento, de que as nossas pequenas e médias empresas têm de ser apoiadas na conquista de novos
mercados e de que temos o dever de criar condições para o seu desenvolvimento, que acreditamos que o CETA
responde ao interesse estratégico do nosso País.
Sr.as e Srs. Deputados, a retórica protecionista, que promete crescimento e emprego, acalentando o retorno
a um passado glorioso e próspero no qual não havia globalização está de volta à atualidade política — temo-lo
ouvido na nova administração americana, temo-lo ouvido em vários países europeus e também no nosso País.
Mas esta retórica não tem em conta o facto de o comércio ser o motor da economia global e do desenvolvimento
económico e social, de facilitar a transferência de conhecimento e novas tecnologias, de promover a integração
entre as regiões e a prosperidade global.
Para que, realmente, assim seja e todas estas vantagens sejam equitativamente distribuídas, confiamos na
oportunidade dos acordos comerciais, sobretudo quando estes são negociados com um dos países mais
prósperos do mundo e com elevado índice de desenvolvimento humano e, acima de tudo, tradição de respeito
pelos valores democráticos, como é o caso do Canadá.
Sr.as e Srs. Deputados, o Partido Socialista acompanha e saúda a posição do Governo, que a Sr.ª Secretária
de Estado aqui veio, uma vez mais, defender. Aguardamos, pois, pelo envio da proposta de resolução para a
devida apreciação parlamentar, e estamos, como sempre, dispostos a acompanhar o processo de entrada em
vigor com muito interesse.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Pires, para uma intervenção.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Secretária de Estado, Sr.as e Srs. Deputados: Importa
clarificar aqui algumas questões.
Importa deixar de lado os falsos argumentos, importa deixar de utilizar a propaganda que tem sido utilizada
até agora sobre o Acordo e importa analisar o Acordo em si, porque o objetivo deste debate é exatamente
analisar o conteúdo do Acordo, o que até agora não foi feito, diga-se.
Passo a desmontar alguns argumentos que foram apresentado.
Sobre a potencialidade do crescimento económico que este Acordo tem, devo dizer que as próprias previsões
dos estudos da Comissão Europeia indicam um crescimento possível de 0,08% a sete anos. Portanto, não há,
sequer, crescimento imediato e não há prova, sequer, de que este crescimento seja sustentável.
Relativamente ao mecanismo ICS, devo dizer que foi, não por acaso, o mais debatido e o mais alterado em
todo este processo, e isto aconteceu por alguma razão, foi porque era o que levantava mais dúvidas. Mas
importa olhar para o que significaram mecanismos semelhantes, como o ISDS, em que o Canadá, ao abrigo do
ISDS, no NAFTA (North American Free Trade Agreement), foi processado 39 vezes, e também temos de olhar
para aquilo que muitos especialistas dizem.
Já agora, por falar em democracia, é, de facto, estranho que se diga que este é um dos acordos mais abertos
e mais transparentes. Durante praticamente 10 anos, ninguém ouviu falar deste Acordo, a sociedade civil não
foi ouvida e os cidadãos não têm conhecimento fundamentado sobre o que nós estamos aqui a falar,…
O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — … e isso é uma falha enorme e, nesse sentido, não é possível dizer que é um
acordo aberto.
Em segundo lugar, o Bloco de Esquerda, para analisar o Acordo, também foi falar com os envolvidos e com
os peritos, como a Ordem dos Médicos, que já referi, mas poderei referir o Sindicato dos Magistrados do
Ministério Público, que também têm publicado muitos estudos e muitas análises sobre o mecanismo ICS.