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I SÉRIE — NÚMERO 74

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O apoio a essas práticas, na lógica do princípio da complementaridade, decorre, para além do seu mérito

inerente, da constatação de que o acesso a dispositivos tecnológicos não é universal, tendo em consideração

que não é possível, neste momento, fornecer aos milhares de escolas da rede pública as condições e o hardware

necessários a uma utilização por todos os alunos, em condições de igualdade, de recursos educativos digitais,

mas decorre, igualmente, da verificação da insuficiência de recursos digitais que traduzam verdadeiras

melhorias da qualidade das aprendizagens em todas as áreas curriculares, não obstante reconhecer-se o grande

progresso verificado neste domínio ao longo dos últimos anos.

O Grupo Parlamentar do Partido Socialista evidencia a importância da complementaridade do recurso a

plataformas e conteúdos digitais, tendo em conta a atual fase do conhecimento e da maturidade infraestrutural

e tecnológica, devendo ser um processo centrado muito mais na aprendizagem, o que requer uma abordagem

muito mais abrangente. E, claro, importa prosseguir a política de gratuitidade dos manuais que está a ser

aplicada pelo Governo.

Não podemos ter receio da mudança. Desmaterializar manuais impõe que não percamos de vista os mais

elementares desígnios da escola pública. A realidade diz-nos que os recursos e os territórios são desiguais,

como o são os seus alunos, as suas populações.

A desmaterialização dos manuais tem, efetivamente, de acontecer. Mas façamo-lo com a certeza do seu

sucesso e em permanente diálogo com todos os intervenientes do processo educativo.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Joana

Mortágua.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A entrada da era digital nas escolas

não é uma escolha nossa, é uma realidade com a qual as escolas vão ter de lidar, com a qual os professores

vão ter de lidar, com a qual todos nós vamos ter de lidar, porque os alunos já lidam com ela todos os dias e é a

eles que a escola tem de se adaptar.

Não quer isto dizer que ela seja uma realidade fácil. A desmaterialização dos materiais escolares é um tema

muito complexo, com implicações pedagógicas, didáticas, que aqui já foram levantadas, mas, também, com

outro tipo de implicações, com outro tipo de benefícios ao nível de custos e, como Os Verdes lembraram — e

bem —, também ao nível da sustentabilidade ambiental.

O Bloco de Esquerda está de acordo que se inclua a desmaterialização dos manuais escolares como um

princípio orientador da escolha e do regime de avaliação e de certificação dos manuais escolares, mas nós

estamos hoje a discutir na Assembleia da República, como já foi aqui lembrado, uma petição sobre o peso das

mochilas dos alunos, que foi assinada por 50 000 pessoas, que a Assembleia leva muito a sério, porque

reconhece que dentro dessa mochila vão muitos problemas; vão problemas de saúde dessas crianças, mas

também vão problemas da escola e também vão os lucros das editoras.

Quando olhamos para a mochila dos alunos temos de compreender que há várias formas de resolver este

problema. Há a questão dos cacifos, que é um investimento que tem que ser feito, mas também há a questão

dos trabalhos para casa que fazem pesar a mochila dos alunos, mesmo que existam cacifos, porque os obrigam

a levar os seus materiais para casa devido à quantidade enorme de trabalho que têm de fazer em casa, para

além das horas que passam na escola.

Há ainda a questão, por exemplo, da introdução dos fascículos ou da alteração da gramagem dos manuais

escolares e entra aqui, também, a questão da desmaterialização como opção, como recurso, para alterar a

forma como nós, hoje, encaramos os manuais escolares nas escolas.

Este não é um tema fácil e o Bloco de Esquerda tem chamado a atenção para o problema dos custos das

famílias nesta transição. Nós achamos que o peso não deve ser retirado das mochilas dos alunos para pesar

mais nos bolsos das famílias na altura de adquirirem estes manuais. Lembramos que os 140 milhões de euros

de lucros das editoras não podem passar dos manuais tradicionais para os manuais digitais e, sobretudo, esse

custo não pode ficar em cima das famílias. Este é um assunto complexo