I SÉRIE — NÚMERO 79
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Por todas estas razões, o Partido Socialista, perante esta iniciativa, em relação à qual gostaríamos que
tivesse uma ampla aprovação nesta Câmara, mais não pode do que acompanhar aquilo que é o nosso
património fundador, o da defesa da liberdade religiosa, mas não a contendo, designadamente, na consagração
dos cristãos, ideia que atravessa toda esta proposta.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Ascenso Simões (PS): — Nós somos pela liberdade religiosa!
Imagine, Sr. Presidente, a seguinte situação: se, relativamente às questões de cor, fosse apresentado um
projeto de resolução ou uma recomendação que dissesse que éramos contra a verificação de um atentado em
razão da cor, designadamente em relação aos brancos, todos nós nos oporíamos a esse texto. É essa nossa
oposição que está hoje aqui em presença.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Em nome do Partido Social Democrata, tem a palavra o Sr.
Deputado Carlos Abreu Amorim.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: A liberdade religiosa é a filha
primogénita do princípio da tolerância dos modernos. Foi a assimilação da indispensabilidade da tolerância entre
as várias crenças religiosas que desenhou no espírito da civilização europeia a compreensão pelas lógicas
existenciais do «outro» e a aceitação do livre curso das ideias que não compartilhamos, mas que temos o dever
de respeitar e, até, de proteger, desde a religião até às conceções mais profanas do mundo.
O conceito moderno de liberdade nasceu precisamente da exigência de tolerância religiosa, tornada
necessidade com as constantes guerras e perseguições baseadas nas diferenças de religião que os europeus
fomentaram uns contra os outros, sobretudo desde o século XVI. Foi a partir dos debates acerca da tolerância
religiosa que se geraram os ideais humanistas, desde Erasmo de Roterdão a John Locke, até à sua consagração
jurídica com o liberalismo constitucional do século XIX.
A liberdade de cada um de seguir a crença religiosa que melhor entender ou escolher não adotar nenhuma
é, e continuará a ser, uma trave mestra fundamental da nossa modernidade e do núcleo duro daquilo que nos
configura como cidadãos livres neste início do século XXI.
Infelizmente, não é assim em muitos outros lugares do mundo. Multiplicam-se os exemplos de intolerância
religiosa, quer com configurações pré-modernas ou ostentando máscaras pós-modernas, até ao ponto em que
parece que a unicidade religiosa se tornou no suporte fulcral de algumas religiões e de muitas ideologias feitas
da mesma massa, da recusa da diferença e do outro. Por isso, o PSD apoia esta iniciativa do CDS.
Portugal deverá estar sempre na primeira linha da defesa da liberdade religiosa, interna e externamente, em
todos os fóruns internacionais, em todos os órgãos, conselhos e comités em que o Estado português tem
assento e voz, não apenas porque se trata de um princípio basilar da nossa Constituição mas, sobretudo, porque
essa terá sempre de ser a nossa imagem de marca: a de um país livre, aberto e tolerante, que aceita as crenças
e as distintas convicções sobre o mundo e as coisas por parte de todos aqueles que respeitem a materialidade
dos nossos direitos fundamentais e do Estado de direito.
Srs. Deputados, não tenhamos ilusões: se permitirmos o desvanecimento da liberdade religiosa, estaremos
a pôr fatalmente em causa a liberdade em todas as suas demais dimensões, sobretudo na vertente política.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António
Filipe, do PCP.
O Sr. António Filipe (PCP) — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Importa dizer que a intervenção que a Sr.ª
Deputada Ana Rita Bessa proferiu da tribuna foi feita em termos mais corretos do que os que constam do projeto
de resolução apresentado pelo CDS.