I SÉRIE — NÚMERO 81
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Portugal precisa de renegociar a dívida, para que os milhares de milhões de euros que hoje são gastos em
juros da dívida possam ser utilizados para investir e desenvolver o País.
Na próxima sexta-feira será votada a proposta do PCP para a criação de uma comissão parlamentar que
estude e prepare essas soluções e estamos convencidos de que esse será um passo importante na
consideração pelo Estado português das medidas concretas que podem e devem ser tomadas.
Há outra matéria, no que se refere diretamente aos constrangimentos externos, que tem grande importância
para centenas de milhares de trabalhadores, que é a do combate à precariedade.
O combate à precariedade no setor público e também no privado exige opções políticas e medidas concretas.
Foram aprovadas, com o nosso contributo, propostas que devem ser concretizadas em breve para o combate à
precariedade na Administração Pública.
O Sr. Presidente: — Faça o favor de concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — É preciso garantir que o Governo tome as medidas necessárias em
relação a todos os trabalhadores precários da Administração Pública.
Também no setor privado é necessário tomar essas medidas, designadamente em relação aos recibos
verdes e aos falsos estágios.
Sr. Presidente, dê-me apenas 10 segundos para dizer que uma proposta que nós temos é a de dar força
executiva às decisões da ACT (Autoridade para as Condições do Trabalho), para que, detetando situações de
precariedade, integre os trabalhadores sem dar aos patrões a possibilidade de os despedir e de fugirem às suas
obrigações.
Sublinho, Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro: tratemos desta questão, pois é do futuro de uma geração que
estamos aqui a falar. É justiça social o que esses trabalhadores esperam.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro, António Costa.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, se há ponto em que não há
nem contradição, nem tensão entre nós é sobre a questão da precariedade. E isto tem tudo a ver com o
crescimento, porque se queremos efetivamente crescer, de modo duradouro e sustentável, temos de abandonar
o modelo que criou a ilusão de que era possível voltarmos a ter empresas produtivas e economias competitivas
com base na destruição de direitos, na precariedade e nos baixos salários.
Temos de investir na qualificação e na inovação e, para isso, temos de ter relações laborais sãs e sólidas,
porque só uma relação de trabalho duradoura faz investir na qualificação e permite aos trabalhadores «vestirem
a camisola» e poderem aplicar todo o seu potencial ao serviço da melhoria e da produtividade.
Temos, por isso, de combater a precariedade no setor privado. Sei que, neste momento, na Assembleia da
República, há iniciativas do PCP, do Bloco de Esquerda e do Partido Socialista para o combate à precariedade
no setor privado e espero que a Assembleia da República rapidamente conclua essa discussão, que nos parece
essencial.
No que diz respeito ao setor público, concluímos na segunda-feira a audição das estruturas sindicais para
poder ser assinada a portaria que dá execução ao mecanismo que foi previsto para combater a precariedade
no setor público.
Permita-me, Sr. Deputado, acrescentar mais alguma coisa. É evidente que no mundo de hoje nenhum país
está isolado e, portanto, há uma relação de interdependência, e o facto de fazermos parte da União Europeia
implica, necessariamente, termos de partilhar com os outros 27 Estados regras que são comuns. Ninguém pode
viver — numa família, numa empresa, numa cidade, num país, numa União — sem que haja regras e sem que
elas sejam comuns. Não se trata de imposição, trata-se de partilha de regras.
Partilhamos com o PCP divergências relativamente a algumas das regras que nos são impostas. Partilhamos
com a União Europeia alguma divergência com o PCP quanto a algumas outras regras.
Protestos do Deputado do PSD Pedro Alves.