10 DE MAIO DE 2017
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O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Duarte Costa, do Grupo
Parlamentar do Bloco de Esquerda.
O Sr. JorgeDuarteCosta (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Começo por saudar o Partido
Pessoas – Animais – Natureza pelos agendamentos de hoje.
Quem ouvir as reações públicas e o debate que foi aberto pelas iniciativas do PAN pode ficar com a sensação
de que o que está em cima da mesa hoje na Assembleia da República é o fim da caça, o desarmamento dos
caçadores, talvez a ilegalização da pólvora e um resultado espetacular: vão extinguir-se espécies inteiras de
cães, vai haver infestação do País por javalis e outros e vai desertificar-se o mundo rural.
Vozes do CDS-PP: — Ah!
O Sr. JorgeDuarteCosta (BE): — A direita e os apoiantes da caça sem regras optaram pela caricatura e
pela demagogia neste debate.
O que temos em cima da mesa é um conjunto de propostas tecnicamente sustentadas, que estão baseadas
em pareceres e opiniões de especialistas e instituições do setor e que devem ser apreciadas pelo que são, pelo
seu conteúdo verdadeiro e não pela ficção que se quiser fazer à volta delas.
Em primeiro lugar, apresentaram-se medidas de contenção para proteger o património cinegético ameaçado,
uma moratória de três anos à caça da rola-comum e do coelho-bravo, tal como recomendado pelo Instituto da
Conservação da Natureza e das Florestas, tal como recomendado pela Quercus e que deveria ser a política do
Estado português junto de Espanha, na medida em que sabemos que a rola-comum está hoje em valores da
sua prevalência na natureza três quartos abaixo daquilo que existia há 20 anos e que o coelho-bravo está a 10%
do que existia há 50 anos. Portanto, caçar estas espécies é pô-las em perigo e essa moratória é uma urgência.
O Sr. HeitorSousa (BE): — Muito bem!
O Sr. JorgeDuarteCosta (BE): — Em segundo lugar, reforçou-se a proibição do uso de venenos, que,
embora já esteja previsto na lei, deve ser reforçada porque tem impactos concretos em espécies ameaçadas e
na contaminação do meio natural.
Em terceiro lugar, foi apresentado um projeto de lei, a que o Bloco de Esquerda se associou e de que é
coautor com o PAN, que diz respeito ao fim da caça com cães em matilha. Esta proibição tem simplesmente a
ver com o facto de o ordenamento jurídico português já prever a proibição das lutas de animais, considerando
essa prática degradante para quem a promove, para as pessoas que a organizam. É, pois, uma forma arcaica
e inaceitável de sofrimento animal organizado como uma indústria.
O Sr. HeitorSousa (BE): — Muito bem!
O Sr. JorgeDuarteCosta (BE): — Estas formas de caça resultam no sofrimento prolongado e na agonia de
milhares de cães que participam nestas caçadas, que são acondicionados de forma deficiente durante longos
períodos e usados exclusivamente para este tipo de caça.
Esta prática é uma indignidade que é totalmente arcaica e que não deve continuar.
A proposta que é feita é no sentido de, simplesmente, não se reproduzirem estas matilhas, que são, só
contando com as legais, em número, mais de 800 no nosso País, cessando, portanto, esta prática, a produção
destas espécies para o único efeito da caça em matilhas, terminando esta forma de negócio degradante que é
a caça com cães em matilha.
O Sr. HeitorSousa (BE): — Muito bem!
O Sr. JorgeDuarteCosta (BE): — A direita e os defensores deste modelo de caça agarram-se a uma cultura
errada, a uma cultura que não encontra correspondência nas tradições cinegéticas nacionais e nas tradições da
caça em Portugal, aquelas que respeitaram a natureza ao longo dos anos e que não correspondem a este tipo
de negócio e a este tipo de cultura. A direita acha que não pode haver limites, que a exploração do ecossistema,