I SÉRIE — NÚMERO 101
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O Estado concede um conjunto de benefícios e garantias que permitem aos lesados, associando-se,
demandar aqueles que de forma dolosa os prejudicaram e devem, por isso, responder criminal e
patrimonialmente para reparar os prejuízos e os danos que causaram.
Este é um passo decisivo para que práticas abusivas de comercialização agressiva de instrumentos
financeiros possam ser efetivamente reparadas. O diploma que apresentamos confere ao Estado o papel de
catalisador do processo, assegurando o acesso a meios financeiros e uma redução dos custos de litigância para
a parte mais fraca nestes contratos: os lesados.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Sr. Secretário de Estado, inscreveram-se dois Deputados para
pedir esclarecimentos, pelo que lhe perguntava como deseja responder.
O Sr. Secretário de Estado Adjunto e das Finanças: — Em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Então, o primeiro pedido de esclarecimento é do Sr. Deputado
Carlos Silva, pelo que lhe dou, de imediato, a palavra.
O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Secretários de Estado, Srs. Deputados, o
tratamento desta matéria tem sido marcado pela mais profunda opacidade.
Continuamos sem conhecer os termos do acordo alcançado pelo amigo do Sr. Primeiro-Ministro com os
lesados do BES, aquele amigo para todas as ocasiões.
O Sr. Ministro das Finanças, sempre que questionado sobre o documento do acordo com os lesados, nunca
respondeu. E, repare, Sr. Secretário de Estado, que foram várias as perguntas regimentais, foram vários os
debates parlamentares. É claro que, sem conhecermos o acordo, não sabemos se a proposta que aqui nos traz
hoje o materializa.
Pois bem, Sr. Secretário de Estado, tem hoje uma boa oportunidade de pôr fim a esta gritante falta de
transparência.
Apesar do pouco que conhecemos, Sr.as e Srs. Deputados, é patente que mais uma vez o Governo engendra
uma solução ardilosa que acaba por colocar portugueses contra portugueses.
Não venha a esquerda dizer que estamos contra uma solução para resolver o problema dos lesados. Não
estamos! Nós defendemos os lesados; porém, estamos preocupados com a solução em que, mais uma vez, é
o dinheiro de todos os portugueses que é utilizado para pagar o direito de alguns.
Não são os portugueses sem exceção que, com os seus impostos, têm de suportar os investimentos ruinosos
que alguns clientes bancários foram aliciados a efetuar. Nesta situação alguém ficou com o seu dinheiro. Então,
esses, não são chamados a responder?! Vemos muita indignação de quem ficou sem os seus investimentos —
é compreensível —, mas contra quem ficou com as suas poupanças é que não vemos nenhuma indignação.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Carlos Santos Silva (PSD): — Esta solução, à boa maneira socialista, é a de que alguém há de pagar,
não se sabe quando nem quanto. É mais um remendo da geringonça, à custa dos portugueses.
Assim, a geringonça, através do amigo do Primeiro-Ministro, arranjou uma solução que se resume ao
seguinte: ilibar vigaristas que venderam banha da cobra aos clientes bancários;…
Vozes do PSD: — Muito bem!
Protestos do PS, do BE e do PCP, batendo com as mãos nos tampos das bancadas.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Srs. Deputados, por favor…
Queira prosseguir, Sr. Deputado Carlos Silva.