24 DE JUNHO DE 2017
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Aplausos do PCP, do PS e de Os Verdes.
Sr. Secretário de Estado, a pergunta que, da parte do Grupo Parlamentar do PCP, se impõe fazer sobre a
proposta de lei que o Governo apresenta — e refiro-me, particularmente, à proposta de lei n.º 74/XIII (2.ª), que
define as características dos fundos de recuperação de créditos — tem a ver com uma opção de fundo quanto
à forma como são resolvidos os problemas que possam emergir no sistema financeiro, nomeadamente através
da colocação de produtos, principalmente, como papel comercial. É que ou há a possibilidade de acionar uma
garantia pública, havendo contrapartidas por essa possibilidade, ou, então, estamos apenas a assumir que é o
Estado que paga, acaso não se consiga, através da litigância e do sistema judicial, satisfazer as necessidades
para colmatar as dívidas contraídas. E esta é uma mensagem muito estranha em relação ao passado, porque o
Estado passa a assumir que está disponível para pagar mas não esteve disponível para, como o PCP sempre
propôs, ir buscar o património, as contas em offshore, as herdades, a Espírito Santo Saúde e, com essas
riquezas, poder pagar as dívidas que os donos dessas empresas contraíram com dinheiro que não era deles.
Portanto, Sr. Secretário de Estado, a pergunta que se coloca é esta: o Governo e o Partido Socialista estão
ou não disponíveis para que a ativação de uma garantia do Estado para satisfazer dívidas contraídas junto de
clientes dos bancos que foram enganados esteja dependente da capacidade de o Estado nacionalizar, integrar
no seu património as riquezas, os patrimónios, as empresas que possam, ainda, ser chamados a pagar por
estas dívidas? Ou seja, estão ou não disponíveis para que aquelas empresas, as contas em offshore, o
património imóvel que foi adquirido, neste caso, pelo Espírito Santo, possam vir a ser nacionalizados e o Estado,
assim, sim, poder ativar uma garantia, sendo ressarcido pela nacionalização que acaba de realizar?!
A outra opção é o Estado ser chamado a pagar e não ter como compensar-se por essa perda, assumindo,
assim, os riscos de um negócio. Isto é, os banqueiros enganam os clientes, os clientes são enganados pelos
banqueiros, o Estado paga o prejuízo — é o paraíso do capitalismo financeiro!
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem, agora, a palavra, para responder, o Sr. Secretário de
Estado Adjunto e das Finanças.
O Sr. Secretário de Estado Adjunto e das Finanças: — Sr. Presidente, devo dizer que também fiquei, de
facto, bastante perplexo com a intervenção do Deputado Carlos Silva.
Os lesados de que estamos a falar não são um grupo de gananciosos que se limitaram a comprar
determinado tipo de ativos aos balcões do Banco simplesmente porque tinham um rendimento superior. Estamos
a falar de um conjunto de pessoas que compraram um conjunto de ativos que foram vendidos de forma
enganosa, com informação que estava errada, informação, essa, que tinha sido validada por um conjunto de
entidades, algumas delas públicas.
Aplausos do PS.
Entidades públicas, essas, que não cumpriram as suas funções e que estão hoje a ser demandadas
judicialmente pelos lesados, e estão a ser bem demandadas. Estão a ser demandadas, porque, se não
cumpriram as suas funções, quem foi lesado tem o direito a exigir ser ressarcido e ser recompensado das falhas
do funcionamento dos mecanismos de freios e contrapesos.
Portanto, quando se diz que estamos a passar para benefício de alguns aquilo que é um custo para todos…
É que um custo para todos os portugueses já existe, porque, quando o Estado, em tribunal, for declarado culpado
e tiver de, eventualmente, vir a indemnizar os lesados, essa indemnização será paga por todos.
Aquilo que o Governo está aqui a fazer é a resolver um problema que foi deixado e é chegar a um acordo
que permita a um conjunto de pessoas que foram enganadas que, por um lado, o Estado assuma as suas
responsabilidades e, por outro lado, que haja uma partilha dos custos entre o Estado e os lesados e que também
permita que estes lesados, organizados, demandem aqueles que os enganaram efetivamente e que vão atrás
daquilo que os senhores identificaram como os criminosos.