1 DE JULHO DE 2017
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Para além do cadastro simplificado, há ainda a criação do banco de terras, que é algo que queremos
completar à bolsa de terras que já vinha do Governo anterior, mas que é completamente distinto. O banco de
terras não é um ponto de encontro entre a oferta e a procura de quem pretende comprar ou arrendar terra, é,
antes, um instrumento onde pretendemos colocar todo o património do Estado já existente e também o
património sem dono conhecido, que, ao fim de 30 meses, vai ser, finalmente, possível identificar. Isto porque,
uma vez concluído o processo cadastral, por exclusão de partes, saberemos, ao nível de freguesia e de cada
município, qual é o património sem dono. Este será integrado no banco de terras e o Estado assumirá a sua
posse administrativa. Não assume a sua propriedade, porque o Estado concederá, durante os 15 anos
subsequentes, a possibilidade de os proprietários — se, entretanto, surgirem — poderem, obviamente, assumir
a plena propriedade desse património. Ao fim de 15 anos, o Estado poderá decidir se exerce ou não o usucapião.
Pensamos que o aproveitamento deste património vai dar também resposta a outro problema estrutural da
nossa floresta, que é a pequena parte que é património do Estado. Todos sabemos que, a nível europeu e,
provavelmente, a nível mundial, Portugal deve ser dos países onde a maior percentagem de floresta é privada,
onde o Estado menos hipótese de intervenção tem.
Com este instrumento, passados 15 anos, estou certo de que o património do Estado aumentará
significativamente.
A limpeza da floresta é outro problema fundamental e, para isso, propomos, como já disse, ordenar e gerir,
porque esta é a melhor forma de limpar, mas também criar centrais de biomassa — o diploma já está igualmente
publicado —, por forma a rentabilizar os desperdícios florestais.
Sr.as e Srs. Deputados, a desertificação, como disse no início da minha intervenção, sobretudo a
desertificação humana, não se resolve, obviamente, só com uma agricultura pujante ou com uma floresta bem
gerida, bem ordenada, é preciso muito mais. É preciso que haja um conjunto de intervenções horizontais, que
têm a ver com todos os ministérios do Governo.
O Ministério da Agricultura tenta dar uma resposta — que é, seguramente, insuficiente —, através de apoios
à diversificação da atividade económica, de apoios à criação de empresas que não são, necessariamente, do
setor agrícola, de apoios para manter as populações rurais, como as medidas agroambientais ou de apoio às
zonas desfavorecidas. Mas é preciso ir mais longe e, porque é preciso ir mais longe, o Governo avançou com a
Unidade de Missão para a Valorização do Interior, que, sob uma tutela, no caso concreto do Ministro Adjunto —
que está presente e que também participará neste debate —, pretende congregar, potenciar e articular as
intervenções de todas as áreas governativas concentradas num objetivo comum, que é, numa primeira fase,
travar o abandono dos espaços rurais e, obviamente, inverter esse ciclo. É isto que nos move e é neste objetivo
que, tenho a certeza, todos os Srs. Deputados de todas as bancadas parlamentares estão igualmente
empenhados e disponíveis para dar contributos.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Tal como anteriormente, o tempo excedido na intervenção de abertura será descontado
no tempo atribuído à fase de debate propriamente dito.
Vamos, então, iniciar a fase de debate.
Informo que se inscreveram quatro Srs. Deputados para pedir esclarecimentos à Sr.ª Deputada Heloísa
Apolónia e que a Sr.ª Deputada responderá em conjunto.
Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Soares.
O Sr. Pedro Soares (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo e Sr.as e Srs. Deputados, quero
saudar, em primeiro lugar, Os Verdes e a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia por nos trazer este debate, que tardava
e que é cada vez mais necessário.
Sobre as questões da floresta, do interior, do mundo rural, queria dizer que temos três problemas principais,
entre muitos outros, que não podem ser separados e que passo a elencar: em primeiro lugar, o empobrecimento
a que o interior tem sido votado nas últimas décadas, e isto é objetivo; em segundo lugar, a realidade da estrutura
fundiária do nosso interior e do nosso mundo rural, que também é preciso ser enfrentada; e, em terceiro lugar,
a ausência reiterada do Estado, dos poderes públicos em relação à floresta e ao interior, deixando espaço para