13 DE JULHO DE 2017
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O Sr. Primeiro-Ministro (António Costa): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: No dia imediatamente a
seguir à saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo, os portugueses foram subitamente abalados
com a maior catástrofe humana das últimas décadas.
Em menos de 24 horas, passámos do alívio à comoção, da satisfação à revolta, evidenciando como, perante
o primado da vida humana, tudo o mais tem um valor relativo.
Nunca mais nenhum de nós poderá esquecer aquele dia e temos o dever de tudo fazer para estarmos à
altura da memória dos que faleceram, da dor dos seus familiares e amigos, do terror das populações ameaçadas
pelas chamas, da coragem e brio dos que combateram o fogo, dos que acorreram ao socorro, dos técnicos que
investigam o ocorrido, da gratidão devida ao pronto auxílio internacional, da corrente de solidariedade que
percorreu toda a sociedade, mostrando, mais uma vez, a extraordinária capacidade de os portugueses se unirem
e mobilizarem para vencer a adversidade.
O que nos é exigido, hoje, é muito claro: duas tarefas imediatas e enfrentar um desafio estrutural.
Primeira, reconstruir o que foi destruído e restabelecer a capacidade produtiva dos territórios afetados. O
Governo está a trabalhar intensamente em colaboração com as autarquias locais, sendo que hoje já estão
reestabelecidas as linhas de baixa e média tensão, os cabos de fibra das comunicações e as três primeiras
habitações começaram a ser reconstruídas.
Segunda, esclarecer cabalmente o que aconteceu e, em função dos factos, apurar responsabilidades,
qualquer que seja a sua natureza, porque todos temos o direito a saber e todos temos o dever de total
transparência perante os cidadãos.
Aplausos do PS.
Quero aqui reafirmar que, sem prejuízo da informação e da avaliação que os organismos públicos produziram
ou estão a concluir ou dos estudos científicos que solicitou, o Governo dará toda a colaboração e apoio tanto ao
inquérito-crime aberto pelo Ministério Público como à comissão técnica independente constituída por proposta
do principal partido da oposição nesta Assembleia.
Mas, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, o que é essencial, o que é estrutural para podermos evitar novas
catástrofes, é enfrentar o desafio de revitalizar o interior e de reordenar a floresta.
Aplausos do PS.
Se há respostas que ainda não temos, porque os inquéritos ainda decorrem, há soluções que sabemos que
há muito o País espera e não pode continuar a esperar.
Foi por isso que o Governo criou, logo em março de 2016, a Unidade de Missão para a Valorização do Interior
e foi por isso que, em outubro do ano passado, lançou a reforma da floresta, que está desde abril em debate
nesta Assembleia.
Não podemos continuar a lamentar que o grande problema é o abandono das florestas e não aprovar os
instrumentos de mobilização das terras ao abandono.
Não podemos continuar a justificar que o micro minifúndio da floresta não gera rendimento suficiente e não
criarmos as estruturas associativas, privadas ou públicas, que permitam a necessária valorização económica da
floresta.
Não podemos continuar a dizer que o problema é o de não se conhecerem os proprietários de milhões de
hectares e não aprovar mecanismos que agilizem, finalmente, a conclusão do cadastro.
Aplausos do PS.
Não podemos continuar a reclamar o fim da monocultura do eucalipto e não travar a expansão da sua área
de plantio.
Todos sabemos que é isto, e mesmo isto, que é necessário fazer e não podemos continuar a adiar porque
receamos o impacto económico na indústria do papel ou porque temos medo das inevitáveis revoltas populares
contra a demarcação de propriedades.