I SÉRIE — NÚMERO 108
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O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, vamos passar ao período de encerramento do debate sobre o estado
da Nação.
Em nome do Governo, tem a palavra o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros Augusto Santos Silva.
O Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros (Augusto Santos Silva): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs.
Deputados: Dois temas dominaram este debate. O primeiro é a presença e a organização do Estado; o segundo,
a estrutura e a gestão da despesa pública. Comecemos pelo primeiro.
Todos sabemos que a lógica do ir além da troica se fundava no pressuposto da desnecessidade do Estado
e se condensava num objetivo preciso: enfraquecê-lo, reduzindo-o ao mínimo.
Os efeitos ficaram rapidamente à vista no declínio das funções sociais do Estado, mas, como ficou
demonstrado neste debate, atingiram também severamente as funções de soberania, com menos recursos para
a defesa, a segurança interna, a justiça e a diplomacia.
Entendamo-nos, portanto. Defender o Estado soberano é fazer ouvir a nossa voz no concerto europeu,
defender os nossos interesses contra as ameaças de sanções e suspensões de fundos, ameaças motivadas,
aliás, por incumprimentos orçamentais passados. É afirmarmo-nos como um País que honra os compromissos
financeiros e mostra resultados concretos.
Defender o Estado é respeitar a Constituição e não tentar aplicar medidas inconstitucionais e é cuidar de um
relacionamento institucional sem falhas com todos os órgãos de soberania.
É valorizar e modernizar a Administração, repor os salários e as pensões e reconhecer os direitos dos
funcionários, limpando do Estado a mancha negra da precariedade.
Defender o Estado é recusar a privatização da segurança social, da educação e da saúde, antes tratando de
garantir a acessibilidade e a sustentabilidade dos seus serviços e prestações, e é apoiar as instituições basilares
do Estado quando elas enfrentam incidentes graves, em vez de querer trazê-las para um nível de luta política
que não é nem pode ser o seu.
Aplausos do PS.
Por isso, soou tanto a falso, hoje, a ladainha da oposição sobre a suposta desagregação do Estado. Primeiro,
porque o Estado constituiu um alvo da sua ação passada; segundo, porque o programa da oposição continua a
ser retirar do Estado funções, pessoas e recursos.
Aplausos do PS.
Terceiro, porque no sobressalto por que recentemente passámos, foi tanta a sofreguidão do aproveitamento
político que um dos partidos do lado direito desta Câmara chegou a fazer sua a bandeira do questionamento da
autoridade de um chefe militar. Uma vergonha, Srs. Deputados do CDS, uma vergonha!
Aplausos do PS.
Protestos do CDS-PP.
Para quem diz defender o Estado, foi uma vergonha!
Os sistemas públicos podem ceder perante circunstâncias absolutamente excecionais e as instituições
podem também cometer erros muito preocupantes, mas não é solução paralisar os sistemas, nem é solução
decapitar as instituições. A solução está no exato contrário, está no apuramento tempestivo, rigoroso e imparcial
das responsabilidades, está na revisão e na correção dos procedimentos, está na reparação e reconstrução do
atingido. Como a direita deveria saber, o Estado sai enfraquecido quando se atacam as suas instituições e sai
fortalecido quando se cuida delas em todos os domínios, a saber, na soberania, na regulação e no fomento
económico e na função social.
Aplausos do PS.