8 DE SETEMBRO DE 2017
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O Sr. António Filipe (PCP): — Aliás, a Venezuela era conhecida por ser um dos países com maiores
desigualdades sociais, com uma camada de população na miséria.
Em 1999, uma revolta popular contra a fome e a miséria do povo foi reprimida pelo Governo de Carlos Andrés
Pérez, que assassinou mais de 3000 venezuelanos sem que isso tivesse sido notícia pelo mundo fora. Não foi
notícia porque a Venezuela, nessa altura, tinha um certificado de democraticidade passado pelos Estados
Unidos e pela União Europeia e, portanto, esses 3000 assassinatos não constaram em parte nenhuma do
mundo.
A Venezuela começou a mudar no final do século XX, com a eleição de Hugo Chávez Frías como Presidente
da República, com a eleição popular de Hugo Chávez.
O Sr. José de Matos Rosa (PSD): — Força, camarada!…
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Absolutamente!…
O Sr. António Filipe (PCP): — A partir daí, da chamada Revolução Bolivariana da Venezuela, o povo da
Venezuela conheceu um progresso social sem precedentes na redução das desigualdades, precisamente com
a utilização dos rendimentos do petróleo da Venezuela para o bem-estar do povo, para melhorar o sistema
educativo e o sistema de saúde, para melhorar os direitos laborais do povo venezuelano, para que o povo
venezuelano tivesse pela primeira vez direitos sociais, de que passou a usufruir.
É claro que a hierarquia que foi afastada do poder em 1999 nunca se conformou com isso e é essa oligarquia
que hoje domina grande parte da comunicação social na Venezuela e que tem os mais fortes apoios do exterior,
designadamente dos Estados Unidos e da União Europeia, que estão empenhados em reverter a revolução
bolivariana e afastar do poder o Presidente Nicolás Maduro. Isto é, efetivamente, inquestionável. Aliás, essa
oposição, que tentou um golpe militar «à chilena» para afastar Hugo Chávez pouco tempo depois da sua eleição
democrática, nunca hesitou em lançar o caos e semear a violência nas ruas, em proceder ao açambarcamento
e à sabotagem económica por forma a prejudicar as condições de vida dos venezuelanos.
É espantoso que esta oposição tenha acusado Hugo Chávez e acuse Nicolás Maduro de serem ditadores.
Na Venezuela, estranha ditadura essa, em 18 anos houve 21 atos eleitorais — 21 atos eleitorais. Houve atos
eleitorais em que o Governo venezuelano obteve a maioria e houve outros em que perdeu, perdeu referendos
e respeitou o resultado. Pode parecer estranho na União Europeia respeitar os resultados dos referendos,
também pode parecer nos Estados Unidos que o mais votado vença as eleições, mas o que é facto é que houve
21 atos eleitorais cujos resultados foram sempre respeitados.
Na sequência da gravíssima crise económica que se abate sobre a Venezuela, em grande medida por via da
baixa drástica dos preços do petróleo, que criou, de facto, uma situação extraordinariamente difícil para o povo
venezuelano, a oposição, que obteve a maioria no Parlamento, quis usar essa maioria precisamente para
derrubar o Presidente, cuja legitimidade democrática é inquestionável porque o Presidente da República da
Venezuela, como se sabe, não depende da confiança parlamentar. Esse Parlamento, que se considerou em
desobediência, que se autoproclamou em desobediência, tem vindo a patrocinar todo o tipo de violência e de
caos nas ruas, procedendo a linchamentos, a assassinatos, inclusivamente procurando culpar as autoridades
por atos criminosos que têm sido cometidos precisamente por esses elementos da oposição e não hesitando
em qualificar de presos políticos aqueles que são autenticamente criminosos de delito comum. Era importante
que essa diferença fosse efetivamente estabelecida.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou o seu tempo.
O Sr. António Filipe (PCP): — Vou terminar, Sr. Presidente, mas queria dizer, relativamente à Assembleia
Constituinte de que se fala, que, efetivamente, a eleição foi convocada, a Assembleia foi eleita e tem os poderes
precisamente estabelecidos na Constituição da Venezuela.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.