20 DE SETEMBRO DE 2017
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Para o PCP, é uma evidência que o propósito do Mecanismo Único de Supervisão é, acima de tudo,
obstaculizar, ainda mais, todo e qualquer controlo público por parte dos Estados nacionais sobre os respetivos
sistemas financeiros.
Acresce que o segundo pilar da união bancária, o Mecanismo Único de Resolução, constitui um enorme
embuste. A coberto de uma pretensa moralização e responsabilização, tem o propósito de aprofundar a
concentração do sistema bancário e a integração financeira da União Europeia.
Em suma, a união bancária serve dois objetivos centrais: criar a ilusão de que alguma coisa está a ser feita
relativamente à supervisão do sistema financeiro, para que fique tudo na mesma, e facilitar os gigantescos
processos de concentração do sistema bancário a nível europeu. Não admira, pois, que os megabancos
europeus e os tubarões do sistema financeiro apoiem este processo.
Da parte do PCP, reafirmamos a rejeição da união bancária e a necessidade de recuperar a soberania
nacional sobre um setor estratégico para a economia do nosso País.
Sr. Presidente e Srs. Deputados, a necessidade urgente de consolidar a globalidade do sistema bancário e
de conter os riscos sistémicos para a economia, de assegurar uma efetiva regulação, supervisão e fiscalização
da banca e, numa perspetiva mais vasta, a necessidade de canalizar as poupanças e os recursos financeiros
para o investimento na produção nacional exigem que o sistema financeiro seja colocado sob domínio e controlo
públicos. É este o caminho que serve os interesses nacionais.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Sr.as e Srs. Deputados, a Mesa não regista mais pedidos de palavra.
Faço apenas um compasso de espera antes de passarmos ao ponto seguinte da ordem de trabalhos.
Pausa.
Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O debate sobre supervisão
bancária é um debate que convoca a todos e que nos leva, muitas vezes, a falar de matérias que vão muito para
além da supervisão bancária.
Creio que a primeira pergunta que vale a pena fazer é se achamos que as coisas têm corrido bem ou têm
corrido mal e, tendo corrido mal, se achamos que as mudanças deverão ser de pormenor ou de substância. O
CDS tem tido uma posição crítica em relação à supervisão e parece-nos que as mudanças têm de ser de
substância.
Portanto, como primeira nota, parece-nos que reduzir este debate à arquitetura dos órgãos de supervisão é
empobrecer esta discussão.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Então, deixa-se ficar tudo na mesma!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Mais, quando partimos do pressuposto — que não será aqui,
unanimemente, partilhado, mas, creio, é partilhado por muitos portugueses — que a supervisão bancária tem
funcionado mal, não nos parece que criar um supervisor dos supervisores seja a solução, porque senão, daqui
a 10 anos, quando tivermos o supervisor dos supervisores a funcionar mal, vamos criar o quê? O supervisor do
supervisor dos supervisores?! Como também não me parece fazer sentido — quando se parte do princípio, que
é verdadeiro, e do facto, que é verdadeiro, de que os supervisores não se articularam —, em vez de tornarmos
claro que eles têm de se articular, criarmos um órgão novo para substituir essa articulação, que não é feita. Bom,
com franqueza!, não será mais fácil termos supervisores que falem uns com os outros?!
Creio que estarmos a criar órgãos em cima de órgãos, que tornam o sistema cada vez mais complexo, vai
tornar a supervisão mais frágil e não mais forte.
Da mesma maneira, parece-me que o reforço da independência é positivo, mas não se for acompanhado de
um reforço da governamentalização em certas áreas.