20 DE SETEMBRO DE 2017
25
diploma deu entrada aqui e não deu entrada na Comissão Eventual? Talvez haja uma explicação para isto. É
que, de facto, há dois PSD: há um PSD social-democrata moderado e responsável e há um PSD populista e
radical.
Protestos do PSD.
Dos cinco projetos de lei que o PSD apresenta, há três que são moderados e há dois que são radicais, e eu
vou explicar porquê.
Protestos do PSD.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Essa análise é muito benevolente!
O Sr. PauloTrigoPereira (PS): — Devem ter eriçado os cabelos ao Deputado Luís Marques Guedes, que
faz parte dessa Comissão Eventual, quando leu os projetos de lei n.os 595/XIII e 596/XIII. Por acaso, fui verificar
se o Sr. Deputado os assinou e não assinou. Porquê? Passo a explicar, para toda a gente saber: estes projetos
de lei preveem que para os administradores do Banco de Portugal, para os diretores com responsabilidades de
supervisão e para os administradores das entidades reguladoras seja obrigatório constar, na página da Internet
das respetivas instituições, as declarações dos seus rendimentos e patrimónios, as ofertas e hospitalidades
recebidas e o registo de todas as reuniões com entidades externas.
Ora bem, se compararmos este projeto apresentado aqui e discutido hoje com o projeto que o mesmo PSD,
mas o mais moderado, o mais responsável, apresentou na Comissão Eventual, podemos ver as diferenças. São
abissais!
Por exemplo, aplicando aos Deputados, o que tem de se pôr no sítio da Internet são apenas as declarações
de conflitos de interesses e incompatibilidades.
Portanto, percebemos o radicalismo destas propostas do PSD. Mas não se trata só de radicalismo, também
se trata de inconsistência. Porquê? É que nem sequer fizeram o trabalho de casa bem feito. Trabalho de casa
bem feito seria terem comparado o regime que propõem agora para os administradores e diretores do Banco de
Portugal com o dos diretores e administradores das entidades reguladoras independentes. Se estão recordados,
foram aprovadas alterações à Lei-Quadro das Entidades Administrativas Independentes há uns escassos quatro
meses, ou seja, em maio.
O Sr. AntónioLeitãoAmaro (PSD): — Quem aprovou isso?
O Sr. PauloTrigoPereira (PS): — A questão não é essa! A questão é que o que está em vigor são dois
anos para os administradores do Banco de Portugal e para as entidades reguladoras independentes e o que o
PSD propõe hoje é a redução para um ano. Para os diretores com responsabilidades de supervisão, o tal período
de nojo basta que seja um anito. Ficam ali um anito e até recebem metade do vencimento! Já agora, toda a
gente fica a saber que, segundo a proposta do PSD, recebem metade do vencimento mesmo que tenham um
bom emprego numa privada, numa empresa não regulada. Portanto, continuam a receber e esse período é
reduzido para um ano.
Estas são propostas radicais, inconsistentes e incoerentes.
Há mais uma coisa que é muito importante referir: será que terão pensado maduramente sobre as reuniões
com entidades externas?
Vamos imaginar que o Banco de Portugal tem, em duas semanas, cinco reuniões com o banco x que tem
problemas. Portanto, o que a bancada do PSD quer, a bancada radical, é que essa informação esteja na Internet
para que os mercados, toda a gente, a sociedade portuguesa, à «distância de um clique» — usando uma
expressão de uma candidata autárquica —, fique a saber que há um banco que foi cinco vezes falar com o
Governador do Banco de Portugal. Acham que isto é sensato? Bom, se calhar, a ala radical do PSD populista
dirá: «Ah, isto é popular». Mas eu diria que isto é populista.
Protestos do PSD.