I SÉRIE — NÚMERO 2
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A segunda nota, porque nem todas as discussões se reconduzem ao desenho institucional, tem a ver com
questões que são de fundo, e as questões europeias, da união monetária e da união bancária não passam ao
lado. Mas, por mais que estas discussões sejam feitas com muitos termos técnicos e de uma forma ininteligível,
há um princípio que é fundamental nestas matérias, como em muitas outras: a Europa tem de ter regras iguais
para todos. E muitas vezes ouvimos responsáveis europeus fazerem discursos, e bem, inflamados contra
populismos de extrema-direita e de extrema-esquerda, mas eu acho que a Europa, se cumprir este princípio
básico de que as regras são iguais para todos, fará muito mais contra esses movimentos populistas do que
esses 40 ou 50 discursos.
A verdade é que, neste assunto, como, infelizmente, em vários outros, as regras não têm sido iguais para
todos, muito pelo contrário. Cada vez que é preciso resolver um problema nos países, há regras diferentes.
É óbvio que, recentemente, as regras aplicadas em Itália foram diferentes das aplicadas em Portugal e das
aplicadas em Espanha e o reconhecimento desta realidade — que, obviamente, do ponto de vista do CDS, é
uma realidade crítica e problemática — leva-nos a reconhecer que o aprofundamento do fundo monetário
europeu e do sistema europeu de garantia de depósitos é necessário para combater o problema de haver
instâncias a tomarem decisões e, depois, serem as instâncias e os contribuintes nacionais a pagarem-nas, mas
isso não nos faz esquecer este problema fundamental, que é haver soluções diferentes, consoante os países.
Em Portugal, isso tem sido particularmente visível ao longo do tempo, designadamente, com uma atuação
da Direção-Geral que, supostamente, deveria defender a concorrência mas que, na prática, tem defendido a
concentração. Foi isto que se passou, por exemplo, com a decisão que levou a que o Estado português pagasse
ao Santander para ficar com o BANIF. Curiosamente, o mesmo banco Santander, com o qual o Estado português
fez, depois, um acordo para lhe pagar extrajudicial, para lhe pagar os swaps com um empréstimo — adivinhe-
se de quem? — do próprio Santander, mandou a conta dos juros ao Estado português e ficou com mais de 1000
milhões em nosso nome. Curiosamente, é o mesmo Santander que fica também com o Banco Popular, numa
Europa que dizia que era preciso evitar instituições bancárias que fossem grandes demais para poderem falhar.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — É a concentração!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Mas, então, o que é isto, se não a criação de instituições bancárias
grandes demais para poderem falhar?
Enquanto não estivermos disponíveis para discutir também estes problemas e a forma como esta
concentração é particularmente problemática, sobretudo para um País como Portugal, creio que dificilmente
chegaremos a uma solução.
É importante também que o que se está a passar no Novo Banco seja acompanhado desta forma.
Tivemos um procedimento concursal que terminou de uma forma substancialmente diferente da forma como
tinha principiado e a dúvida continua no ar: sendo as condições as que estão agora em cima da mesa, haveria
ou não mais interessados e diferentes interessados que pudessem, do ponto de vista estratégico, daquele que
é o interesse nacional e o interesse português, evitar, mais uma vez, que este Banco fosse objeto de mais um
processo de concentração em bancos que, pura e simplesmente, não são portugueses. E isso, muitas vezes,
não decorre do mercado mas de uma ação em instâncias europeias.
Este é um assunto que tem de ser discutido e que vale a pena ser discutido.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Trigo Pereira.
O Sr. PauloTrigoPereira (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Como já foi aqui referido, o PSD
apresentou um pacote legislativo do qual constam vários projetos de lei sobre temáticas relativamente diferentes,
sendo que uma delas tem a ver com transparência e incompatibilidades.
A nossa primeira perplexidade em relação a essa matéria tem a ver com o facto de existir, neste momento,
na Assembleia da República, a Comissão Eventual para o Reforço da Transparência no Exercício de Funções
Públicas que ainda aceita a apresentação de novos projetos de lei. Por isso, pergunto: por que é que este