20 DE SETEMBRO DE 2017
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Europeu tem assento, o seu Presidente é Mario Draghi. Da mesma maneira, a instituição proposta ontem no
grupo de trabalho, que, como disse, está agora em consulta pública, faz isso mesmo. Temos uma instituição
segregada do Banco de Portugal, que trataria nomeadamente das questões da supervisão macroprudencial,
onde as três instituições estariam presentes, não como um papel consultivo do Banco de Portugal mas, sim,
com participação efetiva numa entidade autónoma que trataria dessas matérias, mais uma vez em linha com
aquilo que acontece na União Europeia.
Parece-nos um pouco estranho que o PSD venha aqui referir e defender a arquitetura europeia quando
propõe uma arquitetura contrária e até podemos dizer incompatível com aquilo que existe na Europa.
Ao contrário do que aqui disse o PSD, não há nenhuma interferência do Governo na política de supervisão,
porque, sobre a autoridade de resolução e a autoridade macroprudencial, aquilo que é proposto no relatório não
tem qualquer intervenção do Governo. Onde há uma intervenção do Governo é no Conselho Superior de Política
Financeira (CSPF), mas uma instituição análoga a esta já existe hoje, onde o Ministro das Finanças e o Governo
têm assento.
Parece-nos do mais elementar bom senso que as questões de supervisão mantenham a independência,
como está presente no relatório ontem apresentado, mas temos de reconhecer que não podemos tornar
totalmente independentes as questões de supervisão macroprudencial e a política económica do Governo. Não
há uma interferência no regulador, mas há a criação de uma nova instituição, onde essa articulação é feita.
Sr.ª Deputada, vou dar-lhe um exemplo: segundo aquilo que disse, o PSD parece concordar que toda a
decisão de resolução esteja separada da esfera do Governo. Só que há um problema: isso faria sentido se o
Fundo de Resolução estivesse plenamente capitalizado e não houvesse intervenção de dinheiros públicos,
nomeadamente do Orçamento do Estado, em medidas de resolução, mas, na situação que hoje existe, isso não
se verifica.
Aliás, em linha com a crítica que a Sr.ª Deputada fez à tomada de decisão por parte de instituições europeias
em que, depois, quem paga a conta são as instituições nacionais, parece-nos negativo fazer um modelo
semelhante, onde o Governo não teria qualquer participação na decisão de resolução. Era importante manter
isso, porque senão o que teríamos era o Banco de Portugal em total autonomia de quem manda no Orçamento
do Estado a tomar decisões e, depois, o Governo a pagar a conta.
Portanto, temos algumas críticas às propostas do PSD e parece-nos que o relatório ontem divulgado é um
bom ponto de partida para uma reforma moderada, mas eficaz, do modelo de supervisão.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Continuando no enfiamento desta
discussão, temos de reconhecer que o sistema bancário europeu, em particular o português, continua numa
situação de enorme fragilidade que não tem a ver unicamente com a situação dos seus balanços mas também
com o absoluto falhanço do quadro institucional europeu, que foi criado para lidar com crises bancárias, a tal
chamada «união bancária». O economista João Salgueiro chamou-lhe uma aberração; o economista Paul De
Grawe chamou-lhe uma ficção e é preciso aceitar as críticas que hoje são feitas a um projeto falhado.
A união bancária foi vendida com dois argumentos, dois princípios teóricos. O primeiro era desatar o nó entre
governos e bancos, obrigando acionistas, credores e depositantes a sofrerem as perdas antes de chegar ao
erário público — um bom princípio, ninguém discute. O segundo princípio era desnacionalizar as decisões e o
respetivo custo, passando os poderes de intervenção para autoridades europeias, tal como os custos dessa
intervenção para um fundo europeu.
Serão bons princípios e boas ideias? Talvez! Só que têm um problema: não funcionam! Nunca funcionaram,
não funcionam e nunca funcionarão! E uma ideia que não funciona é uma má ideia à partida. E isto não é uma
opinião, é uma matéria de facto, muito simples de comprovar.
A pergunta que tem de ser respondida é: quantos bancos é que já foram intervencionados ao abrigo deste
mecanismo? Nenhum! E oportunidades não faltaram, em Portugal ou na Itália. Nenhum banco foi
intervencionado porque o mecanismo não está em vigor e não funciona.