I SÉRIE — NÚMERO 2
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A Sr.ª Maria Luís Albuquerque (PSD): — Em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Tem, então, a palavra, em primeiro lugar, o Sr. Deputado Paulo Sá, do Grupo
Parlamentar do PCP, para pedir esclarecimentos.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Maria Luís Albuquerque, o Grupo
Parlamentar do PSD traz hoje a debate um conjunto de projetos de lei e um projeto de resolução que introduzem
alegados aperfeiçoamentos nos mecanismos de controlo e supervisão da atividade bancária. Tais alterações,
alegadamente, conduziriam à salvaguarda dos interesses dos contribuintes e contribuiriam para evitar
problemas nos bancos como aqueles que se registaram no passado.
Mas, Sr.ª Deputada, não foi exatamente isto que o PSD disse há muitos anos, depois do escândalo do BPN?
As alterações aos mecanismos de controlo e supervisão realizados nessa altura não deveriam ter impedido o
descalabro noutros bancos?
Como explica, então, a Sr.ª Deputada que, apesar de todos os aperfeiçoamentos introduzidos na altura, o
supervisor não tenha conseguido fazer um acompanhamento adequado do BES? E porque é que os
aperfeiçoamentos nos mecanismos de regulação e supervisão introduzidos após o colapso do BES não
impediram o descalabro do BANIF?
Sr.ª Deputada, como justifica que, entre 2011 e 2015, quando esteve no governo com a pasta das Finanças,
apesar de todos os mecanismos de supervisão existentes na altura, o PSD não só tenha permitido que situações
como as do BES e do BANIF tivessem tido os desenvolvimentos que são conhecidos como ainda tenha
participado na operação de branqueamento da real situação destes dois bancos através de declarações públicas
do Primeiro-Ministro de então, da Sr.ª Deputada como Ministra das Finanças e até do Presidente da República
de então?
Não foi por falta de mecanismos de supervisão que se verificaram os escândalos do BPN, do BPP, do BES
ou do BANIF.
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Ai foi, foi!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Estas situações verificaram-se devido a opções políticas de favorecimento do
grande capital, em particular opções do anterior Governo, PSD/CDS.
O problema não está na falta de regulação e de supervisão, não está na desonestidade deste ou daquele
banqueiro ou na competência deste ou daquele supervisor, não está na falta de segregação entre a autoridade
de supervisão e a autoridade de resolução nem na ausência de institucionalização do Conselho Nacional de
Supervisores Financeiros nem na ausência de publicitação dos rendimentos e património dos titulares dos
conselhos de administração das entidades administrativas independentes.
Num quadro em que o sistema financeiro é controlado por grandes grupos monopolistas e colocado ao
serviço dos interesses desses grupos, em que a opção política de sucessivos governos foi a de favorecimento
do grande capital, a supervisão será sempre ineficaz e os contribuintes serão sempre chamados a pagar os
desmandos dos banqueiros.
Para não ter de admitir isto, que teria como consequência lógica o reconhecimento da necessidade de colocar
o sistema financeiro sob controlo público, o PSD e também outros partidos fazem regularmente o número do
aperfeiçoamento da regulação e da supervisão para alimentar a ilusão de que alguma coisa está a ser feita,
quando no essencial continua tudo na mesma: os grupos monopolistas controlam o sistema financeiro e
colocam-no ao seu serviço e, quando as coisas correm mal, a política de favorecimento dos grandes grupos
económicos e financeiros apresenta a fatura aos trabalhadores e ao povo.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, do Bloco
de Esquerda.