28 DE OUTUBRO DE 2017
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e bombeiros voluntários. Precisamos, de facto, de um corpo de bombeiros altamente profissionalizado, como
precisamos de melhores sapadores, mas não podemos prescindir dos bombeiros voluntários, temos, até, de
estimular o voluntariado e, para isso, propomos a criação de um cartão social para os voluntários.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, peço-lhe que conclua.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Propõe-se: um maior envolvimento das Forças Armadas, estamos de
acordo; uma gestão feita pela Força Aérea, também estamos de acordo; uma melhor formação profissional,
estamos de acordo; e critérios de mérito, com curso, na formação na própria Proteção Civil.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado, por favor.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que seremos exigentes, colaborantes
mas exigentes, porque assim nos exige o que aconteceu, assim nos exige a memória destas 64 vítimas de
Pedrógão Grande, no mês de agosto, e a memória daqueles que morreram nos dias 14 e 15 de outubro.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Soares.
O Sr. Pedro Soares (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Quero, em
primeiro lugar, deixar uma palavra de saudação aos familiares das vítimas dos incêndios e dizer-lhes que podem
contar com a nossa solidariedade, mas, sobretudo, com a nossa ação.
Em segundo lugar, quero deixar uma palavra de agradecimento à Comissão Técnica Independente, que
produziu um Relatório de grande importância e que nos tem ajudado profundamente nos nossos debates.
Após centenas de milhares de hectares ardidos, vidas humanas perdidas, habitações, infraestruturas e
empresas destruídas, uma enorme angústia nacional perante o drama e o sofrimento causado, surge uma nova
dicotomia política em matéria de floresta.
Há quem considere que o essencial é tratar os problemas do curto prazo, a fita do tempo, porque os
problemas do médio e longo prazos bem podem esperar.
De facto, é uma grande fita. Esta é a armadilha em que a floresta tem estado enredada ao longo de décadas,
pelo menos há 20 anos, desde a aprovação da Lei de Bases da Floresta. Pouco ou nada se avançou, nem os
elementares planos regionais de ordenamento florestal conseguiram ver a luz do dia.
Para todos, acho que isto é inquestionável, a prioridade é o apoio às vítimas, o restabelecimento da
capacidade produtiva e a limpeza dos perímetros em torno dos núcleos populacionais. Isto é inquestionável.
Mas não será por acaso que a direita se foca essencialmente no curto prazo, na fita do tempo.
A direita, se, por um lado, explora politicamente a tragédia, por outro, foge das suas próprias
responsabilidades pelo estado caótico do ordenamento e da gestão florestais, pelo abandono do interior e
mantém todas as lealdades aos interesses que a marcam neste debate.
O Relatório da Comissão Técnica Independente é perentório nesta questão ao afirmar que, se algumas das
recomendações têm aplicabilidade a curto prazo, «(…) a reconversão, não só da capacidade de intervir na
floresta como também do combate aos incêndios (…), constitui um processo multifacetado que deve ser adotado
progressivamente a médio e longo prazo (…)».
Lamentavelmente, a direita alimenta a narrativa de que a reconversão e as mudanças estruturais na floresta
vão diminuir o rendimento dos produtores. Tenta induzir a ideia de que uma floresta com menos áreas de
monocultura de eucalipto e pinheiro é menos rentável. É falso!
O Relatório da Comissão Técnica Independente refere que «(…) manchas contínuas de misturas (…),
pinheiro e eucalipto, infelizmente comuns em situações de gestão deficiente, é a receita, mais cedo ou mais
tarde, para o desastre».
Só uma floresta ordenada, saudável, diversa e multifuncional é que pode ter racionalidade e sustentabilidade
económica. Ao fim de centenas de milhares de hectares ardidos esta é, cada vez mais, uma evidência. O mito