I SÉRIE — NÚMERO 15
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A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — … e que agora foi corrigida com as medidas que aprovamos neste
Orçamento.
Aplausos do BE.
Aquilo a que a direita chama «favorecer clientelas» nós chamamos «boa política económica», a política
económica que mostra ao País que não é empobrecendo que se recupera crescimento e emprego, muito pelo
contrário. É precisamente no combate ao empobrecimento que se constrói esta realidade que todos os dias
atraiçoa os planos da direita: contas sólidas, emprego, aumento da procura interna, aumento das exportações,
melhoria de salários, melhoria de pensões, mais dignidade, melhoria de condições de vida.
Percebemos, por isso, por que é que o PSD e o CDS não gostam destes Orçamentos. Nós construímos
enquanto a direita se esforça por destruir. Nós construímos confiança e construímos segurança e a direita quer
medo e quer pobreza.
Percebemos por isso que achem insólita esta realidade reiterada de Orçamentos que cumprem a
Constituição. Percebemos que achem bizarro que as pensões possam ser aumentadas, que o IRS possa
diminuir, que mais professores possam ser vinculados e que os funcionários públicos tenham direito à sua
dignidade profissional, que lhes foi roubada durante tantos anos.
Quem sempre entendeu que as pensões eram o mealheiro do Estado, que os trabalhadores eram fonte fácil
de receita fiscal e que os funcionários públicos eram a causa do Estado ineficiente, não pode compreender
aquilo que hoje estamos aqui a fazer.
Mas não é apenas isso, Srs. Deputados, quem promoveu o discurso das inevitabilidades, quem aceitou
obedecer sem levantar a voz nem a cabeça…
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Vocês é que têm baixado a cabeça!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — … também não pode entender a natureza desta maioria parlamentar, nem
a natureza da relação do Bloco de Esquerda com o Governo.
Reconhecemos o percurso que fizemos, com dificuldades e com conquista, damos a cara por todas as
dificuldades e conquistas que fizemos, com clareza e frontalidade. E é com clareza e frontalidade que afirmamos
que ainda não estamos satisfeitos com esta proposta de Orçamento. Não tanto por aquilo que contém mas por
aquilo que falta e pelas expectativas — e muito legítimas — a que ainda temos de dar resposta.
Os recibos verdes continuam à espera de um regime contributivo que os proteja e garanta um futuro estável.
É preciso dar-lhes segurança.
Os precários do Estado esperam ver a sua situação finalmente regularizada. Merecem ter segurança.
O País exige que as medidas de combate e prevenção de incêndios e de proteção da floresta vejam a sua
tradução orçamental imediata. É de segurança que falamos, mas não só.
Sr. Primeiro-Ministro, há ainda outras promessas por cumprir nesta Legislatura: recuperação do Serviço
Nacional de Saúde com investimento em pessoal, em cuidados primários e em atendimento à população;
investimento na rede de transportes públicos, da CP aos transportes urbanos, passando pelo metropolitano de
Lisboa.
Nestas áreas, como na cultura e na educação, a resposta deste Orçamento é insuficiente, é insuficiente face
ao que é necessário e é insuficiente face aos compromissos que foram assumidos.
Sr. Ministro das Finanças, sabemos bem que não basta orçamentar, é necessário executar o que foi
orçamentado, é necessário esgotar o potencial de investimento previsto em cada Orçamento porque isso não é
uma opção, é um mandato político da maioria parlamentar que vota o Orçamento.
Os défices que sistematicamente vão além das metas acordadas mostram que a execução orçamental pode
ir mais longe e o Bloco de Esquerda não abdica, nem vai abdicar, dessa exigência.
O Sr. Carlos Abreu Amorim (PSD): — Vê-se!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr.as e Srs. Deputados, nesta Legislatura não há cheques em branco, nem
cartas marcadas. A versão final do Orçamento do Estado será a Assembleia da República que a vai decidir.