I SÉRIE — NÚMERO 15
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Sem o peso insustentável dos juros da dívida pública e a obsessão pelo défice, até onde este Orçamento
poderia ir na reposição de direitos e rendimentos?
Com outras opções relativamente à tributação do grande capital, que respostas poderiam ser dadas aos
problemas dos trabalhadores e do povo?
Sem os ruinosos encargos com as parcerias público-privadas, que avanços se poderiam verificar na melhoria
dos serviços públicos e das funções sociais do Estado?
Com uma opção de prioridade ao investimento público, que País poderíamos estar a construir para os
próximos anos?
Sim, a proposta de Orçamento do Estado contém avanços que são de valorizar e o PCP valoriza-os. Mas
sem os espartilhos que o PS impõe a si próprio poderíamos estar a dar outros passos para a melhoria das
condições de vida das pessoas, para a melhoria dos problemas estruturais do País e para a superação das
vulnerabilidades e dependências que tolhem o nosso desenvolvimento económico e social.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, em tudo o que é avanço e
conquista a proposta de Orçamento do Estado tem a intervenção do PCP, as suas propostas e a sua
persistência: na eliminação de restrições a direitos dos trabalhadores da Administração Pública; no pagamento
das horas extraordinárias do trabalho noturno e das horas de qualidade; no descongelamento das progressões
na carreira e no pagamento integral, até ao fim da Legislatura, das remunerações correspondentes; na revisão
da tabela remuneratória dos assistentes operacionais; no novo aumento extraordinário das pensões, que
abrangerá mais de 1,6 milhões de reformados, traduzindo-se, pelo segundo ano consecutivo, numa recuperação
do poder de compra perdido; no aumento do mínimo de existência, que se traduzirá numa redução ou até
isenção de pagamento de IRS para centenas de milhares de trabalhadores e reformados, e no aumento do
número de escalões de IRS, significando um desagravamento fiscal para quase 3 milhões de contribuintes do
2.º e do 3.º escalões.
Para todas estas medidas o PCP deu um contributo decisivo.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, o problema da escassez de investimento público
não pode ser iludido, escassez que não tem permitido travar a degradação dos serviços públicos verificada ao
longo dos anos, impulsionada pelo Governo do PSD/CDS, e que não tem permitido assegurar a capacidade
destes serviços de dar resposta aos problemas das pessoas.
Cirurgias adiadas, escolas degradadas, estradas esburacadas, comboios suprimidos, longas filas de espera
em repartições públicas, estas são as consequências da falta de investimento público.
No exame comum que o PCP fez com o Governo identificámos a questão do aumento do investimento público
como a questão central à qual urge dar resposta. É necessário reforçar significativamente o investimento público
em áreas como a saúde, a educação, a floresta, os transportes, a habitação, a cultura, a justiça, as forças e
serviços de segurança e as Forças Armadas.
A análise da proposta de Orçamento do Estado não permite uma avaliação rigorosa dos investimentos que
o Governo pretende fazer em 2018. Por isso, entende o PCP que o Governo deve disponibilizar à Assembleia
da República a lista completa e exaustiva dos investimentos públicos previstos para 2018, desagregada projeto
a projeto, tal como acontecia no Mapa XV do PIDDAC (Programa de Investimento e Despesas de
Desenvolvimento da Administração Central).
Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: O que justifica uma meta para o défice de 1% do
PIB (produto interno bruto) conhecendo, como se conhecem, os problemas que o País enfrenta? Não deveria a
prioridade ser o crescimento económico e a criação de emprego, mesmo que isso implicasse um défice superior?
E o saldo primário, superior a 5 000 milhões de euros, integralmente consumido pelos juros da dívida, não
deveria esta verba imensa ser utilizada para dar resposta aos problemas das pessoas e do País, para valorizar
salários e pensões, para melhorar os serviços públicos e as funções do Estado, para dar resposta a problemas
gritantes na saúde e na educação?
As metas que o Governo impõe a si mesmo para cumprir cabalmente as orientações da União Europeia em
questões como o défice orçamental, o saldo primário ou a dívida pública pesam de forma particularmente
negativa na proposta de orçamento do Estado, limitando o alcance da política de reposição de direitos e
rendimentos. E quanto mais tempo se demorar a romper com estas imposições da União Europeia mais tempo
perdurarão as consequências da política de exploração e empobrecimento do anterior Governo PSD/CDS.
Mas não é só o Orçamento do Estado que se deve libertar dos constrangimentos e espartilhos à nossa
soberania impostos pela União Europeia. Também a execução orçamental, incluindo as cativações, deve ter