I SÉRIE — NÚMERO 25
28
É assim que entendemos o papel dos Deputados: para lá de todas as nossas divergências, que são muitas, não
podemos deixar de nos pôr de acordo sobre aquilo que são urgências, muitas delas humanitárias.
O Grupo Parlamentar do Partido Socialista tem procurado promover este diálogo com os cidadãos, sobretudo
em audições com os bairros, nomeadamente bairros sociais e bairros de autoconstrução. Mas a política de
habitação, Srs. Deputados, tem de ser uma política para todos. Temos de fazer frente à bolha especulativa que
está aí, estamos a assistir a ela. Temos de dotar o Estado e os municípios de instrumentos e recursos para
regular o mercado da habitação, quer quanto aos preços, quer quanto à qualidade da oferta. Precisamos de
monitorizar a evolução dos preços da habitação em comparação com a evolução dos salários e rendimentos
das famílias, porque, Srs. Deputados, se não fizermos esta relação pública dos preços da habitação, que a
Constituição nos impõe, fica gravemente prejudicada a política de devolução de rendimentos que temos
defendido e aplicado e que tem sido posta em prática por este Governo.
Sr. Presidente, Sr.as Deputadas, Srs. Deputados: À má habitação ou à sua falta associam-se com frequência
condições persistentes de pobreza e insucesso escolar, conflitualidade familiar, exclusão social e até
discriminação racial e étnica. As políticas de saúde pública e as políticas de coesão social não podem continuar
a ignorar a questão da habitação.
Sr. Presidente e Srs. Deputados, a habitação em Portugal é o único direito social da Constituição que nunca
teve uma lei de bases. Temos vivido de programas avulsos, de programas temporários. Por isso, o Grupo
Parlamentar do PS irá apresentar publicamente no início de 2018 um projeto de lei de bases da habitação, no
qual iremos refletir todos os contributos que estamos a recolher ao longo desta Legislatura e, especialmente,
deste processo participativo que lançámos sobre esta nova geração de políticas de habitação.
Mas o que pretendemos, Sr. Presidente e Srs. Deputados, é que todas as forças políticas e todos os cidadãos
possam dar o seu contributo. Acreditamos que a democracia precisa de uma cidadania vigilante e atuante.
Srs. Deputados — nós, Deputadas e Deputados —, façamos as leis que formos capazes de fazer e que
melhorem a vida das pessoas e que essas, é a nossa esperança, possam durar.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr.ª Deputada Helena Roseta, tem quatro Srs. Deputados
inscritos para pedir esclarecimentos.
Como pretende responder?
A Sr.ª Helena Roseta (PS): — No fim, em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sendo assim, tem a palavra, para formular o seu pedido de
esclarecimento, o Sr. Deputado Jorge Paulo Oliveira.
O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Sr. Presidente, a Sr.ª Deputada Helena Roseta ofereceu-nos na sua
declaração política que saudamos, sobretudo na parte inicial, uma análise e uma visão muito crítica sobre o
setor da habitação em Portugal. Devo dizer-lhe que o PSD comunga dessa visão crítica e que, ademais, não
me surpreende de todo.
Como a Sr.ª Deputada referiu, e bem, o anterior Governo aprovou uma Estratégia Nacional para a Habitação
(ENH) para o período de 2015-2031, amplamente debatida e participada por vários organismos públicos e por
várias entidades da sociedade civil com trabalho reconhecido nas áreas da habitação e do ordenamento do
território.
Tratava-se de uma Estratégia estruturada em três pilares fundamentais — a reabilitação urbana, o
arrendamento habitacional e a qualificação dos alojamentos —, composta por 60 ações concretas e específicas,
onde também estavam elencadas as entidades competentes e os indicadores de monitorização.
Com o novo Governo, esta Estratégia não foi melhorada, não foi revista, não foi alterada. Com o novo
Governo, esta Estratégia simplesmente foi metida na gaveta.
Em dois anos, nada de significativo foi feito nesta área, Sr.ª Deputada. E o que foi feito, ou que se pretende
que venha a ser feito, como o protelamento do congelamento das rendas, o lançamento do famoso «imposto