I SÉRIE — NÚMERO 27
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O Grupo Parlamentar do PCP votou contra os projetos de resolução n.ºs 809 e 810/XIII (2.ª), da autoria do
PAN, ambos sobre questões de caça. Em primeiro lugar, o projeto de resolução nº 809/XIII (2.ª) estabelece
moratórias para a caça a duas espécies que apresentam problemas cuja génese e o contexto são
completamente diferentes. Enquanto a escassez de rola comum é resultado direto das alterações agrícolas
verificadas no país — abandono dos cereais de inverno e da cultura de girassol, a crise do coelho bravo é
resultado direto da mobilidade artificial sem controlo sanitário provocada pelos agentes que exploram as
chamadas turísticas e a venda de coelhos importados de Espanha.
A experiência de moratórias já teve resultados positivos em algumas situações, mas a haver moratórias
anuais, estas deveriam ser localizadas dentro das regiões cinegéticas, concelho a concelho. O Instituto de
Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) não tem a informação necessária por terem sido extintos os
chamados guardas florestais e a GNR/Ambiente não ter quadros nem formação para o efeito, o que dificultaria
a implantação de medidas desta natureza.
Relativamente à uniformização de dias de caça entre regime ordenado e não ordenado, poderá pôr em causa
muitas das chamadas turísticas que usam a caça «artificial» como base da exploração cinegética, mas mais
importante do que esta questão é a igualdade de acesso ao direito de caçar entre caçadores sem acesso a
terrenos ordenados e os restantes, permitindo a caça nos terrenos não ordenados às espécies migratórias
(pombos e tordos), agora interditadas por portaria.
Neste momento, alastra a mancha de terrenos não ordenados devido à crise cinegética geral de quase
deserto cinegético nos terrenos ordenados — a grande propriedade, o latifúndio, continua a ter terrenos
cinegéticos ordenados e a pequena e média propriedade estão a ficar fora das renovações em curso.
Em muitos locais, estes proprietários, fora das renovações, estão a substituir os aramados com arame
farpado mais alto para impedir o acesso aos caçadores, exigindo que a travessia desses terrenos de caça seja
feita pelas porteiras entretanto fechadas a cadeado com controlo eletrónico de modo a que tenham
conhecimento imediato da presença de estranhos com alerta à GNR contra a invasão de propriedade.
A situação da atividade cinegética exige decisões e ação e a natureza técnica destas decisões não abdica
da intervenção dos serviços públicos responsáveis.
Por fim, não podemos deixar de enquadrar a intervenção do PAN no seu objetivo de fundo de eliminação da
caça. Ainda que aparentemente o PAN manifeste preocupação com o setor, está, desta forma, a tentar fazer
um caminho com o qual o PCP não concorda.
O Deputado do PCP, João Ramos.
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Relativa à proposta de lei n.º 67/XIII (2.ª) — Cria benefícios fiscais para entidades de gestão florestal,
alterando o Estatuto dos Benefícios Fiscais e o Regulamento Emolumentar dos Registos e Notariado. [votada
na reunião plenária de 27 de outubro de 2017 — DAR I Série n.º 14 (2017-10-28)]:
O PCP não tem dúvidas que a resolução de muitos dos problemas da floresta portuguesa passa por melhorar
a gestão da floresta e por isso tem vindo a insistir na necessidade de intervenção junto de mercado da madeira
por forma a valorizar o preço a que é paga ao produtor. Já com este objetivo de uma melhor gestão, o PCP foi
o primeiro partido a propor a criação de ZIF — zonas de intervenção florestal, na década de 80 do século
passado, 25 anos antes da sua efetiva criação.
Contudo, o PCP, não acompanha que esse estímulo seja feito através de benefícios fiscais, nomeadamente
porque entende que os apoios devem ser de outras naturezas e não à custa das receitas do Estado e também
que os benefícios fiscais são apoios tendencialmente mais usados por quem mais condições (técnicas, jurídicas
e outras) tem para lhe aceder, nomeadamente os produtores e empresas de maior dimensão.
O mecanismo de apoios através de benefícios fiscais vem beneficiar sempre os mesmos beneficiados — os
grandes proprietários —, até porque os pequenos não têm forma de aceder uma vez que em muitos casos não
têm volume de negócios suficiente para pagar impostos.
Por estas razões, o Grupo Parlamentar do PCP votou contra esta proposta de lei.