21 DE DEZEMBRO DE 2017
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Precisamos, agora, de aprender com o que correu bem e com o que correu mal. Muito está por fazer, num
País de baixos salários, precariedade e pobreza e de serviços públicos ainda muito degradados pelos anos de
austeridade da direita.
Mas, Sr. Primeiro-Ministro, o País não encerra para balanço e temos já decisões importantes a tomar sobre
um setor fundamental: os correios, os CTT.
Em 2013, Portugal juntou-se à Malásia, a Singapura, ao Líbano, a Malta e à Holanda e passou a ser o quinto
País do mundo com correios integralmente privados. PSD e CDS não quiseram saber da experiência
internacional que aconselha a que o serviço postal seja público.
Ignoraram que, na Holanda, a privatização levou ao encerramento de 90% dos postos de correios e
desagregou a empresa. Ignoraram que, na Dinamarca e no Reino Unido, as privatizações tiveram de ser
revertidas, renacionalizando os correios.
Ignoraram mesmo que os CTT eram uma empresa histórica, lucrativa, com mais de 500 milhões de euros de
lucro, entre 2005 e 2013, e que prestavam um serviço público essencial. Ignoraram o País e só quiseram saber
do negócio.
Antes da privatização, PSD e CDS, para assegurar que o negócio era mesmo muito apetitoso, encerraram
mais de 200 estações e postos do correio, reduziram em mais de 1000 o número de trabalhadores, aumentaram
os preços, garantiram a exclusividade da venda de certificados de aforro do Estado e ainda uma licença
bancária.
Os primeiros 70% foram vendidos, entre outros, à Goldman Sachs, ao Deutsche Bank e ao Unicrédito, que,
apesar de só terem tido a empresa durante 25 dias de 2013, tiveram logo direito a uma generosa distribuição
de dividendos.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — É uma vergonha!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Seguiu-se um movimento especulativo na bolsa e, ainda antes do final de
2014, o que estes acionistas tinham comprado por 580 milhões de euros já valia 820 milhões de euros. Ou seja,
tiraram o seu, e hoje já nenhum é acionista dos CTT.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Exatamente!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Entretanto, PSD e CDS vendiam os 30% que restavam dos CTT no Estado
por menos 340 milhões de euros do que o valor de mercado — ou seja, mais um preço de amigo.
Quem soube fazer negócio, como a Goldman Sachs, fez dinheiro depressa. Quem não soube, paciência!
Vem aí o tombo na bolsa e os CTT em risco de desaparecerem.
O que a direita fez, com o negócio danoso da privatização, foi um assalto ao País, que perdeu um valioso
ativo. Mas, mais do que isso, abriu as portas para o assalto aos CTT, feito pelos seus acionistas privados.
A ANACOM, a entidade reguladora, afirma que os CTT não estão a cumprir o contrato de concessão de
serviço público.
A entrega diária acabou e, nas zonas rurais, o correio é entregue apenas uma ou duas vezes por semana.
Há pensionistas que desesperam com o atraso nos vales das pensões. A população mais frágil está mais
abandonada.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Exatamente!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Enquanto isso, os acionistas privados vão pilhando uma empresa construída
pelo investimento público e pelos seus trabalhadores, que só conheceram precarização e despedimentos.
O grande negócio, que é um assalto, de Sérgio Monteiro, secretário de Estado das privatizações do PSD e
do CDS,…
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Bem lembrado!