I SÉRIE — NÚMERO 29
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A Sr.ª Catarina Martins (BE): — … conhece agora uma nova fase: soubemos ontem que os CTT preparam
uma reestruturação com o encerramento de balcões e despedimentos, uma reestruturação, dizem, por causa
das dificuldades da empresa.
Mas se a empresa estava em dificuldades, como é que, em 2013, entregaram aos acionistas 98% dos lucros,
em 2014, 90% e, em 2015, 97%?!
Se a empresa está em dificuldades, como é que, em 2016, distribuiu 70 milhões de euros aos acionistas, isto
é, mais 8 milhões de euros do que os seus próprios lucros?! Assaltaram até as reservas da empresa!
Portugal não pode permitir esta destruição e pilhagem dos CTT. É necessário impedir os despedimentos e
recuperar o serviço de correios para a esfera pública.
Portanto, Sr. Primeiro-Ministro, irá o Governo travar o processo de reestruturação? Este processo precisa da
sua autorização e pode pará-lo.
Em segundo lugar, irá o Governo recuperar para a esfera pública o serviço dos correios, protegendo
trabalhadores e protegendo as populações? Portugal precisa mesmo dos CTT.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro, a quem aproveito para
cumprimentar, por não ter tido ainda oportunidade para o fazer.
O Sr. Primeiro-Ministro (António Costa): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, em primeiro
lugar, devo dizer que, de facto, este foi um ano que teve duas faces: a face da tragédia, que não podemos
ignorar, e a face em que temos de responder àquilo que é o luto das famílias e a reparação dos danos (os danos
sofridos nas habitações, a reconstrução das empresas e a reconstrução da capacidade produtiva do mundo
rural), mas também temos de nos concentrar em fazer aquilo que é inadiável porque são os grandes desafios
de médio e de longo prazo — a revitalização do interior e o reordenamento da nossa floresta.
Devemos ter um sistema de prevenção e combate aos incêndios mais robusto. Mas é preciso, de uma vez
por todas, estarmos cientes de que melhorias incrementais no nosso sistema de prevenção e combate só
compram tempo para fazer o que é fundamental, que é a revitalização do interior e a reforma da floresta.
Perdemos mais de 10 anos nesse desafio e temos agora de recuperar o tempo perdido. Esta Assembleia já
deu um passo muito importante, ao aprovar, em julho, o essencial da reforma florestal que, em outubro de 2016,
pusemos em discussão pública.
Estamos, agora, a começar a concretizá-la no cadastro. Mas também é necessário começar, a partir de 2 de
janeiro, a poder utilizar as ferramentas criadas no Orçamento do Estado para desenvolver os incentivos
necessários para termos as entidades de gestão florestal, as melhores condições para a criação de ZIF (zonas
de intervenção florestal) e uma floresta que possa ser uma fonte de riqueza e não uma ameaça para as
populações.
Esse é o grande desafio e é um desafio no qual espero que todos continuemos concentrados e focados nesta
Legislatura e ao longo das próximas legislaturas.
Relativamente aos CTT, partilhamos obviamente das preocupações sobre o futuro dos CTT e o seu presente
e a forma como estão a prestar o seu serviço. Foi nesse sentido que o Governo já criou um grupo de trabalho
conjuntamente com os governos regionais, com a ANAFRE (Associação Nacional de Freguesias), com a
Associação Nacional de Municípios Portugueses e com outras entidades para avaliar a forma como está a ser
executado o serviço dos CTT no seu dia a dia.
Não ignoramos a fiscalização que a ANACOM tem feito e acompanhamos com satisfação o incremento da
fiscalização por parte da ANACOM. No último relatório, a ANACOM sinalizou o incumprimento do contrato
relativamente a uma questão essencial, que era o tempo da entrega do correio normal e, nesse sentido, multou
os CTT, forçando-os a uma redução do preço pago pelos consumidores em relação ao serviço postal.
Agora, o que queremos não é multas, o que queremos é qualidade de serviço e serviço bem prestado às
populações. E esse tem de ser um esforço conjunto e, desde logo, dos próprios CTT, porque ninguém ignora,
obviamente, que o mundo das comunicações alterou significativamente o papel de uma companhia como os
CTT relativamente ao serviço postal. Hoje, seguramente, qualquer um de nós escreve menos cartas e envia