I SÉRIE — NÚMERO 31
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Assim, a primeira questão sobre a qual vale a pena refletir, à qual agradecia uma resposta do Sr. Deputado,
é a seguinte: qual é o significado concreto destes encerramentos?
À luz do contrato de concessão que existe atualmente com os correios e telecomunicações, a questão que
lhe coloco, Sr. Deputado, é se considera que este encerramento de estações, reduzindo desta forma a
acessibilidade de milhares de portugueses e portuguesas a este serviço público, constitui ou não uma grave
violação do contrato de concessão do serviço postal público e universal, estabelecido nas bases de concessão
do serviço de correios de qualidade, em 2008, e assinado entre o Estado e os Correios, empresa pública.
Esta questão não parece constituir, da parte do representante dos acionistas, uma situação muito anormal,
porque, como o próprio representante do Grupo Gestmin dizia ontem, a um diário, tem havido encerramentos
de estações desde sempre e, portanto, esta seria mais uma medida de gestão normal no âmbito de uma
administração privada.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Heitor Sousa (BE): — Portanto, aquilo que lhe queria perguntar, Sr. Deputado, para terminar, é mesmo
se considera que é normal o encerramento de estações, à luz da prestação do serviço público, e se considera
ou não que podem ser apagados, desta forma, cinco séculos de história e a função insubstituível de presença
do Estado nos pontos mais recônditos do território, que tem sido exercida pelas estações dos correios no nosso
País.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem, agora, a palavra, também para pedir esclarecimentos, o
Sr. Deputado Paulo Rios de Oliveira.
O Sr. Paulo Rios de Oliveira (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Bruno Dias, começo por saudar os
temas que traz aqui à discussão, entre eles o dos CTT.
Confesso que estava a ouvi-lo e a pensar se deveria interromper o momento em que o Partido Comunista
puxava as orelhas de forma tão violenta ao Governo e, também, no seguinte: «será que eles falam assim uns
com os outros nas reuniões que fazem constantemente?!».
O Sr. João Oliveira (PCP): — O Sr. Deputado é muito coscuvilheiro!
O Sr. Paulo Rios de Oliveira (PSD): — E, por último, cheguei a temer que, depois de um anúncio destes,
tão violento, terminasse com a apresentação de uma moção de censura, mas não foi assim.
Começando por factos, é facto, e não vale a pena desmenti-lo, que o compromisso de privatizar os CTT está
no PEC 2, está no PEC 3, tem uma origem, é do Partido Socialista, e o Sr. Deputado aponta-a, e bem.
Mais: o compromisso de privatizar os CTT está no Memorando, o qual alguém negociou e assinou, e esse
«alguém» está aí, à sua esquerda, e todos os dias conversa consigo.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Vocês também assinaram!
O Sr. Paulo Rios de Oliveira (PSD): — Mas a questão mais importante é a do serviço postal.
Muito mais importante do que quem presta o serviço é se ele é ou não prestado e se cumpre ou não as regras
de concessão do serviço público. E, Sr. Deputado, a pergunta é simples mas é relevante: a quem é que compete
acautelar que o serviço público é prestado? A quem é que compete acompanhar, fiscalizar e, se necessário,
alterar ou reverter este modelo? A resposta parece-me óbvia e não é à Assembleia da República, é ao Governo,
ao seu Governo!
Aliás, Sr. Deputado, recordo-lhe, e bem, que, ontem mesmo, com o apoio do PSD, votou a vinda do Sr.
Ministro à Assembleia, para explicar o que o Governo anda a fazer em relação a este tema e o que pediu à
ANACOM. A ANACOM já sinalizou de forma relevante esta questão? Os CTT não estão a cumprir? O que é que
o Governo vai fazer?