6 DE JANEIRO DE 2018
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A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Assegurar o acesso à habitação,
salvaguardar o que há de genuíno e único em cada bairro histórico da cidade e possibilitar a convivência
saudável com quem nos visita são os objetivos da proposta que o PCP hoje traz a debate.
Devido ao crescimento da especulação imobiliária e ao crescimento desordenado e não planeado da
atividade turística, tem-se registado um conjunto de consequências que, na nossa opinião, não são positivas. É
o caso do despejo de moradores. É verdade que muitos dos despejos advêm da lei do arrendamento imposta
pelo PSD e CDS — e aqui o CDS tem responsabilidades acrescidas — e que levou a que milhares e milhares
de moradores tenham sido expulsos das suas habitações, e é este direito, o direito à habitação, que queremos
e temos de proteger. Outras consequências não positivas são a perda de população e a descaracterização dos
bairros tradicionais.
Pessoas que durante toda a sua vida residiram num bairro histórico da cidade de Lisboa ou do Porto veem-
se impossibilitadas de continuar a fazê-lo, porque, por um lado, há uma redução da oferta de imóveis para
habitação própria e permanente e, por outro, os preços associados são proibitivos e incomportáveis para as
famílias de baixos rendimentos. Os valores de arrendamento são hoje totalmente especulativos e não é
comportável, por exemplo, arrendar uma habitação de tipologia T2 em Lisboa quando o preço médio é superior
a 1000 €. Esta realidade está a levar à expulsão da população das áreas centrais das cidades. Em vez de o
acesso à habitação no centro da cidade ser um direito de todos, está a ser um privilégio de muito poucos.
O PCP entende que o direito à habitação tem de ser assegurado, assim como tem de ser protegido o direito
ao lugar e à cidade. Numa sociedade democrática, residir no centro da cidade não pode ser uma possibilidade
só para uma elite com elevadíssimos rendimentos, tem de o ser para todos.
Acompanhamos, por isso, o movimento Morar em Lisboa, quando afirma que uma cidade tem de ser
habitada, plural e diversificada, uma cidade para ser vivida por todos e não apenas aceleradamente consumida
por alguns.
Consideramos, por isso, que é preciso intervir numa perspetiva de moderar, conter o crescimento
desestruturado do alojamento local para mitigar os seus impactos negativos no acesso à habitação e na
descaracterização dos bairros tradicionais.
Assim, sendo o alojamento local uma atividade económica e não habitação, o PCP propõe, no seu projeto
de lei, que o mesmo seja considerado da seguinte forma: que o condomínio tenha possibilidade de autorizar a
utilização de uma fração para alojamento local; que, atendendo aos impactos desta atividade, em particular
quando se realiza em prédios onde há espaços comuns que são utilizados por todos, haja lugar a um seguro
multirrisco por parte do alojamento local; e que, tendo em conta que o impacto do alojamento local é distinto no
nosso território, haja a possibilidade — e não a obrigatoriedade, como muitos tentam afirmar — de quem assim
o entender, neste caso as autarquias, poder intervir no seu território. E não tem necessariamente de ser na
totalidade do território, pode ser só em parte, para que se possa, de certa forma, regular o alojamento local.
É importante que fique claro: para o PCP, a atividade turística é importante, a continuidade da atividade do
alojamento local também o é, mas é essencial conseguirmos encontrar os mecanismos e as soluções para
compatibilizar os vários usos. Esta atividade deve continuar a decorrer, mas deve garantir-se a acessibilidade à
habitação e salvaguardar-se a vivência das comunidades e dos bairros, que é também aquilo que quem nos
visita vai procurar, porque quer ter contacto com essa população. Se a população se vai embora, quero ver o
que há para mostrar a esses visitantes!
Queria ainda deixar uma palavra relativamente à total disponibilidade do PCP para, em sede de
especialidade, podermos aprofundar este debate, tendo em conta um aspeto que é importante e que deve ficar,
naturalmente, salvaguardado, que é a acessibilidade à habitação, a garantia de que as populações, os
moradores, não sejam expulsas dos bairros onde sempre residiram.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para apresentar o projeto de lei n.º 524/XIII (2.ª), do Grupo
Parlamentar do Partido Socialista, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Testa.
O Sr. Luís Moreira Testa (PS): — Ex.mo Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O Partido Socialista, quando
em meados de 2017 apresentou o atual projeto de lei, tinha o objetivo cirúrgico de conformar uma realidade