I SÉRIE — NÚMERO 58
30
O Governo só tinha de cumprir o que o Parlamento lhe recomendou. Como não o fez, o resultado está à vista
de todos e já é também reconhecido pelos partidos do Governo quando apresentam estas encapotadas moções
de censura ao Ministro da Saúde.
Aplausos do PSD.
O PCP agora quer um plano de emergência para o SNS. Mas, então, o SNS precisa de um plano de
emergência, passados dois anos e meio de os senhores comunistas estarem no poder?!
Protestos de Deputados do PCP.
O Bloco de Esquerda quer mais autonomia para os hospitais e, claro, a velha e estafada fixação das
parcerias. Srs. Deputados, mas os hospitais não têm hoje mais autonomia, com o Bloco a apoiar convictamente
o Governo desde 2015?
Protestos de Deputados do BE.
Já o projeto de resolução do Partido Socialista — aliás, sintomaticamente apenas subscrito pelo Deputado
António Sales — é verdadeiramente delicioso de se ler. Celebra, entre verdades, meias verdades e algumas
inverdades,…
O Sr. António Sales (PS): — Quais são as inverdades?!
O Sr. Luís Vales (PSD): — … os gloriosos avanços do Serviço Nacional de Saúde nos últimos dois anos e
meio e faz algumas recomendações, umas com sentido, outras nem tanto.
Recomendar ao Governo que — e vou citar, Sr. Deputado — «prossiga o reforço do investimento público»…
O Sr. António Sales (PS): — Com certeza!
O Sr. Luís Vales (PSD): — … é simplesmente hilariante, quando nos lembramos que o investimento público
do Governo no SNS caiu quase 30% desde 2015.
Vozes do PSD: — É verdade!
O Sr. Luís Vales (PSD): — Foram quase 30%, Sr. Deputado!
Aplausos do PSD e da Deputada do CDS-PP Isabel Galriça Neto.
Recomendar agora ao Governo a «melhoria do Serviço Nacional de Saúde» é o cúmulo do desaforo político
quando se está no poder já há dois anos e meio.
Mas, então, o SNS não estava já muito melhor do que em 2015? Sr.as e Srs. Deputados, os portugueses
sabem bem que não.
Os utentes sabem-no, quando aguardam mais tempo por consultas e operações, sabem-no quando vivem o
caos nas urgências, sabem-no quando não têm acesso aos remédios, sabem-no, enfim, quando sofrem os
efeitos das cativações do Ministério das Finanças sobre os investimentos no SNS.
Sabem-no também os profissionais de saúde, quando são reiteradamente enganados pelo Governo em
inconsequentes negociações laborais, sabem-no quando aguardam meses por concursos que não abrem,
sabem-no quando o Governo lhes nega o poder de negociar as horas e os serviços que os obriga a prestar.
Sabem-no, ainda — e os Srs. Deputados não o podem negar —, os fornecedores do SNS, que são obrigados
a financiar as políticas do défice do Ministro das Finanças, porque o Governo não lhes paga o que lhes deve e
deixou a dívida do SNS derrapar para mais de 2000 milhões de euros.