17 DE MARÇO DE 2018
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Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, nos últimos dois anos, foram adotadas algumas medidas
visando uma tributação mais adequada dos grupos económicos e das grandes empresas, incluindo a EDP,
medidas como a redução do período de reporte de prejuízos ou o aumento do limiar de exclusão de tributação
de dividendos e mais-valias nas operações intragrupo.
Essas medidas foram claramente insuficientes. Por isso, pergunto-lhe, Sr. Secretário de Estado dos Assuntos
Fiscais: que medidas adicionais pretende o Governo implementar para garantir que os grupos económicos
pagam os impostos devidos, sem artifícios, com taxas efetivas mais próximas da taxa nominal de IRC, de 21%?
E, Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, que consideração faz o Governo sobre a proposta do PCP
que visa garantir que aquelas empresas que desenvolvem a sua atividade em Portugal e que aqui geram os
seus lucros paguem os seus impostos em Portugal e não em qualquer outro país?
A estas perguntas o Governo não pode deixar de responder.
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as Deputadas e Srs.
Deputados: Recentemente, os portugueses foram confrontados com um verdadeiro escândalo fiscal, com uma
imoralidade que não pode ser aceitável num Estado de direito democrático. A EDP, a mais lucrativa empresa no
nosso País, teve, em 2017, uma taxa efetiva de impostos sobre os seus lucros de uns meros 0,7%.
Estamos, portanto, a falar de um nível efetivo de tributação, incomparavelmente inferior àquilo que pagam as
micro, pequenas e médias empresas e infinitamente inferior às taxas que a generalidade das famílias
portuguesas pagam em sede de IRS.
Ora, os portugueses não entendem, ninguém consegue perceber como é que uma empresa como a EDP
que apresenta lucros acima dos 1,5 mil milhões de euros, que distribui aos seus acionistas 690 milhões de euros
em dividendos num só ano pague uma taxa de uns míseros 0,7%! É uma vergonha.
E se é verdade que Os Verdes consideram que é preciso acabar, de uma vez por todas, com estes paraísos
fiscais que representam verdadeiros atentados ao bom senso e à justiça fiscal, também é verdade que não
acordaram só agora para a injustiça fiscal que está instalada no nosso País. Não foi, portanto, a EDP que nos
trouxe a luz. Há muito que Os Verdes denunciam esta flagrante imoralidade fiscal que vai reinando no nosso
País. Foi, aliás, por isso que Os Verdes se opuseram à reforma do IRC que o Governo do PSD e do CDS
apresentou em finais de 2013.
Recorde-se que PSD e CDS baixaram o IRC para as grandes empresas, primeiro dos 25% para os 23% e
depois dos 23% para os 21%. Foi uma grande prenda dada às grandes empresas e aos grandes grupos
económicos. Foi mais um bónus ou, melhor, um conjunto de bónus.
Recorde-se que, para além da descida do IRC, as grandes empresas e os grandes grupos económicos
passaram ainda a beneficiar de outras benesses, como, por exemplo, do alargamento do período de reporte dos
prejuízos fiscais de cinco para quinze anos.
Mas também podemos falar das alterações no regime de tributação dos grupos de sociedades, que veio
permitir o aumento do número de empresas abrangidas por esse regime e, com os seus eventuais prejuízos,
diminuir a matéria coletável do grupo.
Podemos ainda falar das isenções das mais-valias e menos-valias, deduzindo-as ao lucro tributável que essa
reforma veio permitir às grandes empresas e aos grandes grupos económicos.
Face a este quadro, não estranhamos o tema do agendamento do PSD para hoje. O que estranhamos é que
o PSD não tenha percebido que a EDP está a beneficiar da reforma do IRC que o próprio PSD protagonizou. O
que estranhamos é que, face a este caso da EDP, o PSD ainda continue a defender que a taxa de IRC é alta e
que deveria, por isso, ser mais baixa. O que estranhamos é que o PSD, que agora se mostra tão indignado com
aquilo que as grandes empresas pagam de impostos, tenha apresentado nesta Assembleia, em fevereiro do
ano passado, uma proposta para fazer ressuscitar os benefícios fiscais às grandes empresas, a que o atual
Governo pôs termo.
Recorde-se que, nomeadamente com essa proposta, o PSD pretendia alargar o período de reporte de
prejuízos fiscais das grandes empresas para os 12 anos. Mas pretendia mais: em fevereiro do ano passado, o