I SÉRIE — NÚMERO 66
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O Sr. Norberto Patinho (PS): — Não foram acautelados aspetos fundamentais à sua eventual aprovação e
aplicação. Não foram consultadas nem ouvidas entidades cuja opinião seria determinante. Não foram
consideradas alternativas à videovigilância que se pretende impor, como, por exemplo, a aposta na formação
dos profissionais, o reforço dos quadros de pessoal ou a melhoria das condições de trabalho. Não foi efetuada
a avaliação económica da lei proposta, pelo que não se tem uma ideia da dimensão dos custos com a mesma.
Não foi avaliado o impacto do diploma proposto nem a sua proporcionalidade.
São várias as contradições do articulado proposto. Se, por um lado, afirma garantir que as imagens apenas
podem ser observadas pelos operadores, pelos inspetores sanitários e pela Direção-Geral de Alimentação e
Veterinária, por outro, determina que os técnicos encarregues de verificar as imagens captadas devem ter
formação adequada para o efeito. Haveria, pois, outros agentes com acesso às imagens, as quais poderiam
também ser utilizadas para fins de formação.
O projeto de lei prevê a colocação de câmaras de filmar que incidiriam, 24 sobre 24 horas, diretamente sobre
os trabalhadores nos locais onde desempenham a sua atividade profissional. Isto significaria um permanente
policiamento com clara violação dos direitos de personalidade.
O visionamento das imagens pelo operador possibilitaria a utilização das mesmas para controlar o
desempenho profissional. Mesmo que a videovigilância garantisse um melhor bem-estar aos animais nos
matadouros, o que não é o caso, isso nunca poderia ser conseguido através da perda de direitos dos
trabalhadores.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Norberto Patinho (PS): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Estando disponíveis para encontrar formas de aperfeiçoar a lei, sempre com o objetivo de garantir o bem-
estar dos animais, não podemos acompanhar esta proposta.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem agora a palavra o Sr. Deputado João Dias.
O Sr. João Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O tratamento digno dos animais é tema
que tem vindo a ganhar crescente relevância, seja porque há uma preocupação crescente com o bem-estar
animal, seja porque aqui ou ali aparecem denúncias de tratamentos impróprios que é necessário eliminar. Estas
matérias devem ser tratadas com seriedade.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Muito bem!
O Sr. João Dias (PCP): — Não é sério afirmar, a partir de excertos de filmagens de câmaras ocultas, que
esta ou aquela situação são uma prática generalizada em Portugal.
Rejeitamos a ideia de que os trabalhadores dos matadouros são todos insensíveis ao sofrimento dos animais
e que desrespeitam, por norma, as práticas nacional e internacionalmente assumidas e entendemos que é
importante pugnar para que sejam asseguradas as melhores condições de tratamento dado aos animais,
previamente e durante o seu abate.
Os operadores dos matadouros são responsáveis pelo bem-estar dos animais que passam pelas suas
instalações. A presença de veterinários da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária nos matadouros é a
melhor garantia do cumprimento, por um lado, da legislação que rege a qualidade e a salubridade da carne, e,
por outro, das regras de bem-estar animal. Aliás, o veterinário que exerce funções de inspeção no matadouro
tem responsabilidades que vão muito além do peri-abate, tendo mesmo de se preocupar com aspetos e
informações relativas às condições de transporte dos animais e até ao controlo das condições de higiene das
instalações e das operações de abate.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!