I SÉRIE — NÚMERO 70
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segurança social, por via do contributo das empresas de capital intensivo, permitiria valorizar as longas carreiras
contributivas e seria um aspeto essencial da distribuição do emprego e do combate ao desemprego jovem.
Nesse debate com o Governo, não chegámos a acordo sobre este princípio nem sobre a necessidade de
travar o aumento anual da idade da reforma, mas chegámos a acordo com o Governo sobre três matérias muito
importantes.
Em primeiro lugar, chegámos a acordo relativamente à necessidade de reparação a quem foi forçado ao
trabalho infantil. A concretização deste compromisso aconteceu com a aprovação da lei das longuíssimas
carreiras contributivas, que acaba com todas as penalizações para quem peça reforma antecipada e tenha 48
anos de descontos, ou tenha 46 anos de descontos e tenha começado a fazer esses descontos antes dos 15
anos.
O segundo aspeto que acordámos com o Governo diz respeito à necessidade de compensar quem trabalha
desde cedo, valorizando quem tem 40 ou mais anos de descontos. A proposta do Bloco é no sentido de que se
antecipe a idade legal de reforma em um ano por cada ano a mais para além dos 40 anos de descontos; pelo
seu lado, o Governo defende uma solução que oscila entre os quatro e os sete meses de antecipação por cada
ano além dos 40 anos de descontos — são diferentes respostas, mas com acordo de princípio.
O terceiro aspeto acordado refere-se à necessidade de acabar com a dupla penalização resultante do corte
de sustentabilidade de 14,5% aplicado a todas as pensões antecipadas. O Bloco queria terminar este corte em
2017 e o Governo propôs-nos um ponto de encontro entre a nossa posição e a sua, que passava por fasear o
fim deste corte em três anos: em 2017, o corte desapareceria para quem começou a descontar quando era
criança; em janeiro de 2018, desapareceria para quem tivesse 63 anos de idade e que, aos 60, tivesse já 40
anos de descontos; e, em janeiro de 2019, desapareceria para todos os restantes pensionistas, eliminando-se
definitivamente esse corte da lei portuguesa.
O debate que hoje aqui trazemos é sobre a concretização deste terceiro compromisso, formalizado em maio
do ano passado, sobre a segunda fase da eliminação do corte de sustentabilidade — apenas sobre isso.
Porque é que este corte de 14,5% tem de acabar? Desde logo, porque é ilegítimo.
Quando foi criado o chamado fator de sustentabilidade, a idade da reforma era fixa — 65 anos — e o chamado
fator de sustentabilidade aplicava-se a quem se reformasse aos 65 anos, fazendo repercutir o efeito do aumento
da esperança média de vida no valor da pensão. Se a pessoa quisesse trabalhar para além dos 65 anos, podia
continuar a trabalhar mais uns meses e anulava esse corte. Mas desde 2013 que não há uma idade fixa de
reforma e, a partir desse momento, o tal corte de sustentabilidade passou a ser uma dupla penalização sem
qualquer fundamento nem legitimidade.
Nisto, Bloco de Esquerda, PCP, PS e Governo estão de acordo: o fator de sustentabilidade é ilegítimo, não
tem fundamento e tem de acabar.
Aplausos do BE.
Por isso, quando discutimos o fim deste corte não estamos a debater uma benesse que o Governo escolhe
dar ou não, em função dos seus cenários económicos ou das imposições do Ministro Mário Centeno. Não! Todos
os parceiros concordaram que o corte é ilegítimo, por isso é que é tão importante concretizar este compromisso
e acabar com esse corte durante esta Legislatura. Foi isso que foi acordado entre o Bloco de Esquerda e o
Governo.
O que nos diz hoje o PS sobre isto? Que quando se comprometeu com o faseamento, em maio de 2017, não
sabia o que ia acontecer até ao final de 2017 nem podia prever o valor da atualização das pensões em 2018,
nem a despesa correspondente a esse aumento. Tudo isso é verdade.
Mas o facto de o País ter crescido mais do que o esperado é apenas uma razão adicional para concretizar
este compromisso.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Muito bem!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Porquê? Porque o crescimento que determinou o aumento das pensões
significou também maior receita para o Estado, por via de impostos e contribuições para a segurança social.