I SÉRIE — NÚMERO 84
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Portaria n.º 140/2012, que poupou 996 milhões de euros, aprovou o Decreto-Lei n.º 35/2013, relativo às
pequenas centrais hídricas, que poupou 285 milhões de euros, e poderia enumerar aqui um conjunto de
iniciativas. Foi mesmo, Sr. Deputado Carlos Pereira, o único Governo que, em termos concretos, cortou nas
rendas excessivas.
Queremos também saber, para terminar, por que é que o Ministro Manuel Pinho fez uma extensão no setor
hídrico de mais 27 barragens, pagando uma renda que não se percebe, contra os pareceres de várias entidades,
que apontavam para números muito, mas muito reduzidos.
Ou seja, temos aqui muito trabalho.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe para concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Queremos ser focados, queremos ser sérios e competentes e,
porventura, daremos às comissões de inquérito, ao Parlamento e ao País um contributo que até agora não foi
dado em matéria de rendas excessivas.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado João Oliveira, do PCP.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O problema dos superlucros do setor
electroprodutor terá de ser esclarecido no plano criminal, mas é, sobretudo, um problema político.
O mais recente caso, envolvendo o ex-Ministro Manuel Pinho, a EDP, o BES e também o ex-Ministro António
Mexia, é indissociável da recuperação do poder monopolista, do processo de privatizações, da submissão às
imposições externas que serviram de pretexto a muitas dessas privatizações e, naturalmente, também, da
crescente subordinação do poder político ao poder económico.
O que alguns só recentemente descobriram, há anos que é objeto de forte e contínua denúncia do PCP.
A rotatividade de quadros entre os órgãos de governo e os grupos económicos comprova a utilização do
Estado como um instrumento de interesses não declarados, que o PCP tem sistematicamente denunciado e
combatido.
As relações de despudorada promiscuidade e submissão do poder político ao poder económico, as ligações
de quadros e dirigentes de grandes empresas e grupos económicos que assumiram responsabilidades
governativas em sucessivos Governos, as opções das privatizações, com decisões tomadas em processos
pouco transparentes num quadro de fortes suspeitas de corrupção e tráfico de influências, tudo isso confirma a
continuada subordinação de sucessivos Governos PS, PSD e CDS ao poder económico, como um dos
elementos que caracteriza a política de direita e que mais corrói a democracia.
O escândalo BES/GES foi, de resto, exemplo flagrante dessa circunstância, tendo, então, o PCP denunciado
a forma como esse Grupo económico influenciou ex-responsáveis políticos e governativos, incluindo Manuel
Pinho, e, aparentemente, perante a desconsideração de alguns Deputados do PSD, que agora, na última fila,
protestam.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Tudo isto exigia que a Assembleia da República fizesse uma avaliação mais
abrangente e abordasse o conjunto de ligações entre sucessivos Governos e as principais empresas e grupos
económicos, a começar por outras decisões do próprio ex-Ministro Manuel Pinho. Relembramos aqui, Sr.as e
Srs. Deputados, que, em 2008, foi este mesmo ex-Ministro que vendeu por 1 € as minas de Aljustrel a um grupo
internacional, num processo que não pode ficar de fora do escrutínio que deveria ser feito também por esta
comissão de inquérito.
Mas noutras situações — na PT, nos CTT, no SIRESP, na ANA - Aeroportos de Portugal, na banca, nos
submarinos — encontramos exemplos de privatizações, concessões e PPP que se enquadram em processos
de favorecimento dos grandes interesses económicos, de contornos nebulosos e com graves consequências
para o País.