I SÉRIE — NÚMERO 86
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O Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais: — Portanto, a diferença é que não estamos a procurar
um contribuinte em particular. Trata-se de um sistema integrado, que funciona em rede e que exporta milhares
de dados para todas as jurisdições.
Quanto à sua segunda questão, devo dizer que nós não vamos fazer nenhuma lista, nem essa lista é suposto
ser uma lista, e muito menos pública.
O que acontece é que — e respondo-lhe à segunda e à terceira questões da mesma maneira — o que está
já hoje a ser feito, relativamente aos milhares de informações que já temos do ponto de vista internacional,
vamos fazer para o nacional. Do ponto de vista de aplicações informáticas, temos o matching, para podermos
fazer o cruzamento daquilo que são as informações financeiras que agora temos com informações sobre
rendimentos declarados, que também temos, e outro tipo de informações.
O que estamos a fazer é colocá-las numa base de dados para cruzar os elementos e, através de uma matriz
de avaliação de risco, poder identificar, a partir de toda a amostra ou, se quiser chamar-lhe, de toda a lista,
aqueles que são os casos em que, repito, potencialmente pode haver uma irregularidade.
É que, como referi, o facto de os dados da lista serem fornecidos não coloca nenhuma suspeição
relativamente às pessoas sobre as quais os dados são fornecidos. É fornecido aquele dado de saldo bancário,
como são fornecidos os dados relativamente à titularidade — e dei o exemplo, na minha intervenção, de
automóveis e de embarcações —, e é o cruzamento desses vários dados, a partir de uma matriz de avaliação
de risco, que nos permite selecionar casos em que se poderá verificar se existem ou não práticas de evasão
fiscal.
Por outro lado, fruto da alteração que foi feita, já nesta Legislatura, à Lei Geral Tributária, as autoridades
judiciárias podem aceder às bases de dados do fisco diretamente, se for para fins de processos judiciais ou
mesmo de inquéritos penais.
Por isso, temos muito cuidado na forma como estamos a trabalhar esta informação. É cada vez maior o
volume de informação que temos. Nós próprios estamos agora a finalizar o processo de reorganização da
Autoridade Tributária que tem uma vertente mais efetiva, do ponto de vista do tratamento da informação.
Esperamos que, com a entrada em vigor da lei, sendo esta proposta de lei aprovada, possamos ter para os
residentes em território nacional — e, para não nos enganarmos ou não lançarmos para fora falsas ideias, quero
aqui sublinhar e recordar que, quando se diz «os portugueses passam a estar abrangidos», hoje, os dados
bancários de um emigrante português que viva fora de Portugal, numa das mais de 100 jurisdições que têm
acordo com Portugal, já são fornecidos por Portugal a essa mesma jurisdição estrangeira — exatamente as
mesmas regras existentes para os portugueses residentes num desses países.
Portanto, aquilo que estamos a fazer, relativamente ao sistema financeiro nacional, é no sentido de termos
exatamente as mesmas regras para, como disse, termos um melhor instrumento de combate à fraude e evasão
fiscais.
Para terminar, Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, quero também agradecer a sua intervenção e dizer-lhe que
a nossa preocupação em assegurar que a Autoridade Tributária tenha os meios necessários passa precisamente
pelo que acabei de responder ao Sr. Deputado João Almeida. Isto é, estamos a fazer a reorganização dos
serviços centrais da Autoridade Tributária para que o tratamento da informação seja feito nesse sentido, estamos
a desenvolver os sistemas informáticos para tratamento dessa informação. Quero também recordar que o
primeiro efeito que esta medida tem é um efeito de dissuasão que potencia a indução do cumprimento voluntário.
Em segundo lugar, relativamente a situações que possam ser consideradas, essas sim, suspeitas, temos quatro
anos para que possamos identificar se a divergência que existe é real ou não.
Penso que fizemos bem ao começar por criar o enquadramento jurídico e agora, do ponto de vista da
administração, temos de ser efetivos. Agora, o aumento da receita fiscal, muitas vezes referido por toda a gente,
acima da taxa de crescimento reflete também muito isto, que é a maior eficácia do combate à fraude e evasão
fiscais. E é nesse sentido que estamos a trabalhar.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Antes de dar a palavra ao Sr. Deputado Miguel Tiago, quero dizer que, como estava
previsto, haverá votações no final deste debate, como foi requerido pelo Bloco de Esquerda.
Tem a palavra, Sr. Deputado Miguel Tiago, do PCP.