18 DE MAIO DE 2018
11
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, do Bloco
de Esquerda.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Ficais, há muito
tempo que o Bloco de Esquerda se bate pela aprovação de uma lei que permita o acesso do fisco à informação
bancária. Entendemos que é uma medida óbvia e essencial, se quisermos levar a sério o combate à fraude e
ao branqueamento de capitais.
Por isso, apoiamos o Governo desde o primeiro momento em que se dispôs a criar esse regime — que foi
apresentado pelo agora Deputado Rocha Andrade —, aproveitando, na altura, os acordos internacionais que já
existiam e que obrigavam Portugal a trocar informação sobre os cidadãos não residentes. O apoio a esse regime
não foi unânime, mereceu, aliás, vigorosa oposição por parte do PSD e do CDS, na altura, e mereceu também
o veto do Presidente da República.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Bem lembrado!
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Não era a mesma coisa. Não era igual!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Na altura, fizemos saber ao Governo que contava com o nosso voto e
com o nosso apoio para ultrapassar o veto presidencial. Essa não foi a escolha do Governo e a medida esteve
parada quase dois anos. Foram dois anos, tendo em conta todo o atraso na sua aplicação se ela for agora
aprovada, em que se perdeu tempo no combate à fraude e à evasão fiscais.
O Bloco decidiu, por isso, agendá-la. Entendemos que já era o momento de essa medida, tal como foi
proposta pelo Governo há quase dois anos, voltar à Assembleia da República.
Por isso, queria, obviamente, cumprimentar o Governo por ter acompanhado o Bloco neste agendamento
com a apresentação de uma proposta de lei que vai genericamente no mesmo sentido, até porque o projeto de
lei que o Bloco de Esquerda apresenta já ia no mesmo sentido da proposta original do Governo.
Sr. Secretário de Estado, com a entrada em vigor desta lei, o fisco passará a ter acesso a informação sobre
saldos de milhares de contas bancárias e terá acesso a essa informação de uma só vez, uma vez que esses
saldos reportam todos a 31 de dezembro do ano anterior.
Por isso, a pergunta muito clara que lhe faço é se a Autoridade Tributária tem os meios para lidar com toda
a informação que vai receber para poder detetar, à partida, com este novo acesso à informação, casos de fraude
fiscal e de fuga ao fisco.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — É a vez de a Sr.ª Deputada Inês Domingos, do PSD, pedir esclarecimentos.
A Sr.ª Inês Domingos (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr. Secretário de Estado dos Assuntos
Ficais, o debate de hoje é pouco mais do que uma encenação, uma tentativa de branqueamento por parte do
Governo sobre o que foi, na realidade, uma teia de interesses socialista insidiosa que se alastrou na sociedade
portuguesa entre 2005 e 2011.
Protestos do PS.
O Sr. Secretário de Estado veio agora tirar da gaveta um diploma com um ano e meio, para quê? Para desviar
um debate sobre a transparência relativamente a grandes créditos em incumprimento e transformá-lo num
debate de uma relação com o fisco.
O Sr. Secretário de Estado usa depositantes e clientes que são cumpridores como uma espécie de escudo
humano para encobrir os grandes incumpridores.
Sr. Secretário de Estado, em relação à proposta do Governo, acompanhamos as reservas do Sr. Presidente
da República, nomeadamente a de que este alargamento a portugueses e outros residentes não é imposto por
nenhum compromisso externo, que existem numerosas situações em que a Autoridade Tributária e Aduaneira