I SÉRIE — NÚMERO 86
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que era melhor deixar os senhores levar aquilo que tinham comprado com o dinheiro do banco que tinham
roubado.
Ou seja, o PSD e o CDS pagaram um assalto a um banco com os recursos do Estado e não permitiram que
fosse delimitado o universo dos bens adquiridos com o património que tinha sido roubado ao Banco Espírito
Santo.
Protestos da Deputada do CDS-PP Cecília Meireles.
Ora, essa proposta volta hoje aqui. O PCP propõe novamente a constituição de uma unidade técnica para
ser identificado esse perímetro patrimonial para que este possa ser chamado a pagar parte daquilo que o Estado
já gastou com o BES. Mas, agora, chamamos também para a missão dessa unidade técnica o BPN e o Banif,
ambos bancos intervencionados em situações extremas: o BPN, através de uma falsa nacionalização, e o Banif,
através de uma resolução com uma entrega do banco, de borla, ao Santander.
A outra proposta que o PCP aqui traz e que apresento brevemente é a da comunicação de créditos não
pagos da banca — intervencionada ou não pelo Estado, ajudada ou não pelo Estado, tendo ou não recebido
empréstimos públicos —, a da comunicação dos seus grandes devedores e de créditos perdoados ou declarados
incobráveis.
O PCP não propõe que sejam comunicados todos os devedores da banca. Não propomos que todas as
empresas ou particulares que devam à banca sejam identificados. Propomos, sim, que os créditos que a banca
reconheça acima de um determinado valor, 2 milhões de euros, e que reconheça como perdidos, ou seja, que
são irreversivelmente perdidos porque são abatidos ao balanço contabilístico da instituição, que apenas esses
créditos possam considerar-se efetivamente perdidos. É que todos os outros créditos — por exemplo, um crédito
que ainda hoje na Caixa pese negativamente por estar malparado, por estar em incumprimento, a que chamam
um NPL, um non-performing loan — podem ainda estar no balanço, podem ainda estar em fase de cobrança,
podem ainda ter colateral associado, podem ainda ter garantias associadas, e a Caixa ainda detém esse ativo,
ainda detém o passivo e o ativo.
Portanto, não é esse o crédito que nos interessa. Interessa-nos saber qual é o crédito que foi pago para ser
apagado do balanço. E nunca em nenhuma comissão de inquérito, com uma rara exceção na do Banif, em que,
por mero acaso, por engano, uma empresa mandou para cá esses dados referentes a um semestre, apenas a
um semestre, mas em nenhuma outra comissão se conseguiram esses dados e em nenhuma outra comissão,
a não ser na da Caixa, o PSD fez força para os conhecer. Isso também demonstra bem qual é o objetivo, que
fúria é esta do PSD, que ainda não temos a certeza se é uma fúria contra a Caixa por ser pública, se é um
extremo carinho pelos outros por serem privados.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Inscreveu-se, para pedir esclarecimentos, o Sr. Deputado Fernando Rocha Andrade,
do PS.
O Sr. Fernando Rocha Andrade (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Miguel Tiago, relativamente ao
segundo projeto que acaba de nos apresentar, já há pouco referi que o Partido Socialista estaria disponível para
trabalhar, na fase de especialidade, num texto que, equilibradamente, cumprisse os seguintes objetivos: por um
lado, o acesso pelas comissões parlamentares de inquérito ao sigilo bancário e, por outro lado, a divulgação
pública de certos dados relativos a imparidades.
Ao confrontar o projeto do PCP com o do CDS-PP e o do Bloco de Esquerda, parece-me haver uma certa
diferença entre um âmbito muito alargado — 2 milhões de euros é um crédito que uma pequena ou média
empresa pode ter junto de um banco — e aqueles créditos com dimensão sistémica para o banco que, de facto,
podem ter posto em causa a sua viabilidade.
Queria perguntar-lhe, Sr. Deputado, qual é a disponibilidade do Partido Comunista Português para, em fase
de especialidade, trabalhar no sentido de se obter essa solução equilibrada. E caso encontremos, como espero
que se encontre, uma forma equilibrada de assegurar essa divulgação pública, que essa divulgação pública