I SÉRIE — NÚMERO 98
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e damos ao SNS o fôlego de que precisa, voltando à matriz idealizada por António Arnaut, que é um SNS
humanista e universal para todos e para todas.
Sr. Deputado, poderia aproveitar a resposta para esclarecer o País sobre qual é, afinal, a posição e a proposta
do PSD sobre esta matéria.
É que já ouvimos o ministro-sombra da saúde do PSD clamar contra o SNS com os mesmos chavões de
sempre. Ouvimos também o seu líder afirmar que está disponível para acordos em torno da Lei de Bases. Só
não se sabe o que é que, realmente, o PSD propõe.
Aquilo que perguntamos é, pois, que propostas, que acordos, mas, acima de tudo, em nome de quê e em
nome de que interesses é que o PSD propõe.
Aplausos do BE.
Protestos do Deputado do PSD Adão Silva.
O Sr. Presidente: — Também para um pedido de esclarecimento, tem a palavra a Sr.ª Deputada Eurídice
Pereira, do Grupo Parlamentar do PS
A Sr.ª Eurídice Pereira (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Matos Rosa, depois da sua intervenção, sou
forçada a dizer que tenho dúvidas, sérias dúvidas, de que me acompanhe quando digo que, ao longo das últimas
décadas, o percurso de evolução do Serviço Nacional de Saúde e da esmagadora maioria dos indicadores de
saúde da população foi notável.
Seria importante dizer que existe em torno da saúde em geral, e do Serviço Nacional de Saúde em particular,
um amplo reconhecimento que aponta para a necessidade de preservar esta conquista maior da democracia.
Mas, Sr. Deputado, a sua intervenção deixa-nos imensas dúvidas — digo que deixa imensas dúvidas para não
dizer que temos a certeza — de que, mais uma vez, o caminho que querem percorrer não é aquele que está
certo, não é aquele que está correto.
Sr. Deputado, a história não vos colocou sempre no bom caminho quanto a este assunto. A verdade é que
os nossos percursos não tiveram plena convergência.
Recentemente, o líder do seu partido manifestou disponibilidade para avançar com um acordo na área da
saúde, aliás, referência que, em toda a sua intervenção, não foi reiterada.
O Sr. Adão Silva (PSD): — A Sr.ª Deputada não estava na Sala!
O Sr. Ricardo Baptista Leite (PSD): — Não ouviu a intervenção!
A Sr.ª Eurídice Pereira (PS): — E não foi reiterada porque toda a construção da sua intervenção utilizou os
argumentos de há 40 anos que vos levaram a chumbar o Serviço Nacional de Saúde.
Obviamente, nós desejamos amplos consensos, porque eles são sempre bem-vindos, mas, porque a história
não se reescreve, é muito importante, definitivamente, nós sabermos ao que vêm.
É importante, por isso, e a título meramente de exemplo, referir que o aumento muito significativo que o
anterior Governo impôs ao nível das taxas moderadoras constituiu o robustecer de uma barreira no acesso aos
cuidados de saúde, agravando as desigualdades em saúde, designadamente para aqueles que, pela sua
condição clínica, social ou económica, se encontram em particular vulnerabilidade. Foi ainda durante o Governo
do PSD/CDS que se racionou o transporte de doentes ou se diligenciou pelo encerramento de valências e
serviços importantes.
Este grande debate, Sr. Deputado, necessita, por isso, de saber que PSD devemos então esperar: o PSD
que agrava barreiras e desigualdades no acesso a cuidados de saúde ou o PSD que honra a matriz do Serviço
Nacional de Saúde no seu acesso geral, universal e tendencialmente gratuito?
Por outro lado, a perspetiva que a direita tem do setor privado não se coaduna com aquela que é a matriz
orgânica do nosso sistema de saúde, ou seja, um setor público forte, central de referência e dotado de
profissionais altamente qualificados — corporizado no Serviço Nacional de Saúde —, com os setores privado e
social como supletivos dos serviços públicos.