I SÉRIE — NÚMERO 107
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Por outro lado, também vamos assistir a uma desresponsabilização de funções sociais de âmbito universal,
como, por exemplo, na saúde, na educação e na cultura. Muitas autarquias vão dizer que não terão meios
suficientes, como meios financeiros, meios humanos e recursos técnicos, e, naturalmente, irão fazer as
concessões a privados. Esses serviços tenderão a degradar-se e criarão mais dificuldades no acesso e fruição
dos cidadãos.
Efetivamente, tanto esta lei da transferência de competências, como a Lei das Finanças Locais, irão contribuir
para o agravamento das assimetrias e desigualdades entre municípios. Os municípios do interior ficarão mais
penalizados e os outros municípios ficarão privilegiados.
De facto, o Bloco de Esquerda não concorda com este tipo de negociação, é uma negociação do bloco
central. No fundo, assistimos aqui ao PS e ao PSD a irem para os braços um do outro.
Por isso, não poderão contar com o Bloco de Esquerda relativamente a estas matérias.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Berta Cabral, do PSD.
A Sr.ª BertaCabral (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Neste momento em que acabámos de
aprovar o processo de transferência de competências para o poder local, importa sublinhar que foi o anterior
Governo do PSD/CDS que iniciou esta reforma através da implementação de projetos-piloto nas áreas sociais
da educação, saúde e cultura.
O PSD, desde o início, considerou que este processo teria de ser composto formal e politicamente pela lei-
quadro, pelos decretos setoriais, pela revisão da Lei das Finanças Locais e pela definição de meios financeiros
associados a cada autarquia.
Nesse sentido, em nome do interesse nacional, o PSD celebrou um acordo com o Governo assente naqueles
três pilares que acabei de referir.
Graças ao PSD, todo o processo foi tratado e apreciado de forma global e em simultâneo.
O Sr. João Oliveira (PCP): — A mata-cavalos!
A Sr.ª BertaCabral (PSD): — Foi consagrado o princípio do gradualismo até 2021. Serão inscritos nos
Orçamentos do Estado, nos próximos três anos, os valores a transferir para as autarquias locais através do
fundo de financiamento da descentralização.
O Sr. JorgeMachado (PCP): — Como é que sabe?!
A Sr.ª BertaCabral (PSD): — A implementação desta tarefa e destas transferências será acompanhada por
uma comissão com representantes da Associação Nacional de Municípios Portugueses, da Associação Nacional
de Freguesias, do Governo e do Parlamento.
Também foi hoje aprovada a constituição de uma comissão independente para a descentralização a nível
subnacional.
Com tudo isto, devo acrescentar que o processo de descentralização não está concluído.
A legislação agora aprovada representa um passo muito significativo, mas o PSD quer ir mais longe.
Colocamos ambição e expectativa no trabalho da comissão independente para a descentralização a nível
subnacional.
É neste contexto que o PSD se associa à lei agora aprovada em nome dos portugueses e dos municípios
portugueses.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Meireles, do CDS-PP.