I SÉRIE — NÚMERO 4
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A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Aqueles que acreditam que a saúde é um direito e não um negócio têm,
por isso, esta obrigação de mudar a lei. É por isso que lhe perguntamos pelos prazos, mas também se o Governo
acompanha o princípio de que o setor privado e público não podem ser concorrenciais; o setor público é aquele
que garante o acesso à saúde e o setor privado será, apenas e só, supletivo.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, a Comissão entregou o seu trabalho no prazo
previsto. Estamos agora a fazer a sua apreciação e assim que a tivermos concluído, naturalmente, formalizá-la-
emos como proposta de lei.
Aquilo que é certo é que este é um Governo do PS e, sendo do PS, tem uma visão sobre o Serviço Nacional
de Saúde que é conhecida. O PS foi, aliás, o partido fundador do Serviço Nacional de Saúde.
Aplausos do PS.
A visão, a preservação, a defesa e a promoção de um Serviço Nacional de Saúde público, universal e
tendencialmente gratuito é a matriz, necessariamente, do Serviço Nacional de Saúde que este Governo
defenderá.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — A Sr.ª Deputada Catarina Martins continua no uso da palavra.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Primeiro-Ministro, ainda bem que o diz. Devemos dizer que sentimos
algum desconforto e alguma contradição entre estas palavras e a decisão do Ministro da Saúde em continuar
com PPP (parcerias público-privadas), que se têm vindo a revelar, em todos os indicadores, piores do que a
gestão pública, que deve ser o princípio do SNS.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Bem lembrado!
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Diria que todos os socialistas esperam que o PS diga mais do que «fundou
o SNS». Sabemos que o fez! Ainda bem que o fez! Mas julgo que a responsabilidade, hoje, é responder ao apelo
de Arnaut, de Semedo e de tantos outros que construíram, que trabalharam para o SNS e que sabem que a
obrigação dos nossos dias é mesmo salvar o SNS e, portanto, acabar com a promiscuidade entre o setor público
e o setor privado e com a sangria que o negócio privado da saúde tem feito ao Serviço Nacional de Saúde.
Aplausos do BE.
Sr. Primeiro-Ministro, há uma outra questão que quero levantar sobre a lei de bases. Existe uma convergência
entre o Bloco de Esquerda e o trabalho que está a ser feito por Maria de Belém, que assinalamos: a ideia de
que é necessário um estatuto do cuidador informal, que aparece expresso no anteprojeto, nas primeiras ideias
da lei de bases da saúde de Maria de Belém.
Ora, como sabem, de acordo com os estudos do próprio Governo, em Portugal, há mais de 800 mil pessoas
a trabalhar 24 horas por dia, 365 dias por ano, a cuidar dos seus familiares. Um estudo, hoje mesmo divulgado,
diz que, por falta de apoios públicos, estas famílias estão na pobreza, muitas vezes no isolamento, com
problemas de exaustão graves.