29 DE SETEMBRO DE 2018
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Esta desigualdade não é admissível à luz da legislação antidiscriminação e viola claramente a Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
Não somos só nós que o dizemos, é também a Sr.ª Provedora de Justiça que, na sequência de uma queixa
por discriminação, apresentada pela Comissão de Atletas, afirmou que a atual diferenciação pode configurar
uma situação de discriminação com base na deficiência, bem como violar a Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência.
Depois de inquirido pela Sr.ª Provedora, o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto informou que o
recente Contrato-Programa Plurianual de preparação paralímpica prevê a convergência, no ciclo 2018-2021,
das condições dos universos olímpico e paralímpico, designadamente quanto às bolsas e às verbas
disponibilizadas para a preparação desportiva.
Pois é isto que estamos a apresentar aqui, uma convergência que abranja todos os atletas paralímpicos, o
que, ao contrário do que afirmou o Sr. Secretário de Estado, não se verifica no referido Contrato-Programa. Para
ser consequente com a afirmação que fez, vai ter o Sr. Secretário de Estado que reforçar a verba prevista no
Contrato-Programa e, tão ou mais importante, elaborar legislação em que fique clara a equiparação entre os
atletas que representam Portugal ao mais alto nível, não só ao nível das bolsas, mas também das verbas para
a preparação e participação desportiva.
No comunicado distribuído à imprensa, a Sr.ª Provedora de Justiça congratulou-se com a intenção
manifestada pelo Governo de alcançar uma equiparação total — repito, total — nos apoios concedidos aos
universos olímpico e paralímpico. Os atletas, que aproveitamos para saudar, não esperam menos do que isso.
Não sejamos nós a frustrar-lhes essa expectativa.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Diana Ferreira, do
PCP.
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Por proposta do PCP, ficou contemplado
em Orçamento do Estado a equiparação dos prémios atribuídos aos atletas paralímpicos aos prémios atribuídos
aos atletas olímpicos, pondo fim a uma situação de discriminação e exclusão, cumprindo princípios
constitucionais e princípios vertidos num conjunto de instrumentos jurídicos nacionais e internacionais e
valorizando devidamente aquela que é a participação destes atletas num conjunto de competições europeias e
mundiais, bem como nos Jogos Paralímpicos, de que, aliás, a recente participação no Campeonato da Europa
de Atletismo, em Berlim, é, efetivamente, um exemplo.
Esta proposta do PCP abriu portas para que se eliminassem desigualdades e se fizesse um caminho de
valorização do desporto paralímpico, também neste aspeto.
A importante prestação desportiva dos atletas paralímpicos em diversas provas e campeonatos europeus e
mundiais e também nos Jogos Paralímpicos resulta de uma forte determinação e perseverança na prática
desportiva ao mais elevado nível, que é construída no trabalho diário destes atletas, nas estruturas associativas,
treinadores, bem como no apoio das famílias destes atletas que, vencendo diversos obstáculos, tornam possível
a presença de Portugal em diversos eventos desportivos.
Importa, a este propósito, trazer também para reflexão a realidade da prática do desporto adaptado.
A equiparação de prémios e bolsas dos atletas paralímpicos aos dos olímpicos não inibe nem esconde a
necessidade de que sejam garantidas condições para a prática desportiva das pessoas com deficiência, homens
e mulheres, crianças, jovens e adultos, nas suas diversas vertentes — a educativa, a recreativa, a terapêutica
e, também, a competitiva.
E, quando falamos na garantia dessas condições, falamos num verdadeiro compromisso e numa outra atitude
das entidades públicas no apoio aos atletas de alto rendimento e às suas estruturas desportivas; falamos da
necessidade de se ouvirem os atletas, as suas estruturas representativas e associações e organizações
representativas; falamos da necessidade de se garantirem condições básicas de apoio por parte das entidades
públicas, designadamente na criação e reforço de estruturas de apoio ao treino e à preparação, para que a sua
presença em iniciativas ao mais elevado nível seja feita em condições de igualdade relativamente aos atletas
dos diversos países onde se regista um maior investimento no desporto adaptado; falamos na necessidade de