29 DE SETEMBRO DE 2018
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de trabalho não foram partilhados com esta Assembleia, e deviam ter sido. De tal forma que o parecer da 1.ª
Comissão chama a atenção para isso mesmo.
Já foi aqui colocada a questão da arbitragem. Nós, PCP, queremos ser muito claros e é conhecida a nossa
posição: somos frontalmente contra e aprovamos a revogação da chamada «arbitragem necessária». O que é
indispensável é valorizar e assegurar as condições para que a justiça funcione, e funcione bem, e é nos tribunais
do Estado que se deve fazer justiça.
O problema é o de saber se a arbitragem voluntária é mesmo voluntária. E vamos mais longe do que aquilo
que foi colocado até agora neste debate: em que condições é obtido o tal acordo entre as partes, quando se
trata de uma pequena e uma grande empresa? Ou quando uma das partes está em dependência económica da
outra?
Nesses casos, a proposta que o PCP apresenta desde já — e está entregue a proposta de alteração à
extensão da autorização legislativa da proposta de lei — é que seja vedado o recurso à arbitragem para essas
situações. Em geral, não havendo acordo expresso entre as partes, a instância, por definição, onde o litígio
deverá ser dirimido é o tribunal.
Mas há outras matérias que seguramente teremos oportunidade de aprofundar na Comissão e destacamos,
desde já, dois exemplos concretos. Um deles é o chamado «modelo de utilidade», um modelo menos complexo,
potencialmente mais favorável à indústria nacional, que a deixaria menos vulnerável perante a desigualdade do
poder económico dos gigantes europeus e internacionais. Essa opção de não permitir a aplicabilidade de um
modelo de propriedade à indústria deve ser reconsiderada e temos de fazer esse debate, aliás, é uma das
conclusões do grupo de trabalho que se deve ter em conta.
Outro exemplo que aqui destacamos é o da proibição da dupla proteção entre o chamado «sistema de
patente europeia de efeito unitário» e o sistema nacional, digamos assim, com a justiça portuguesa, que não
pode ser descartada, remetendo para o sistema europeu de proteção aquilo que nesta matéria se coloca, e não
é só em Portugal.
Portanto, o que de mais positivo possa estar presente nas alterações a esta legislação não deve nem pode
ser desvirtuado ou pervertido, num processo em que questões essenciais suscitadas no debate ficam pelo
caminho, nem sequer chegam à Assembleia da República. É, pois, importante recuperar esse trabalho, esse
património de reflexão, de debate e de proposta que o grupo de trabalho desenvolveu e que, na Assembleia da
República, teremos de ter em conta.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, pelo Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, tem a palavra o
Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra da Justiça, Srs. Secretários de Estado, Sr.as
e Srs. Deputados: Este debate, que tem por base uma autorização legislativa bastante longa, parte de um bom
princípio, que é o de o Governo entregar à Assembleia da República o decreto-lei que pretende fazer aprovar
com base nesta autorização legislativa. Mas, como se percebe, esse decreto-lei é extensíssimo, porque, de
facto, faz uma transposição de várias diretivas e reformula os direitos da propriedade industrial de uma forma
razoavelmente profunda.
Percebe-se, pois, de certa forma, o pedido que o PSD fez para não se proceder à discussão na especialidade
no mesmo momento, algo que é praxe nas apreciações parlamentares, porque isso permite que, na Assembleia
da República, se possa ter um debate mais informado.
Pela forma como ouvimos a Sr.ª Ministra reagir ao pedido do PSD, o Governo já deu anuência e, portanto,
fica salvaguardado esse princípio que, para nós, é importante.
De facto, ao fazer este agendamento, a Conferência de Líderes fê-lo de uma forma quase automática, sem
olhar para o conteúdo e o peso de um diploma desta dimensão.
Da nossa parte, somos sensíveis à alteração dos critérios da arbitragem — isto, para nós, é relevante — e
estamos disponíveis para participar, na especialidade, de forma célere, como a Sr.ª Ministra pediu, no sentido
de podermos melhorar mais alguns aspetos, mas cremos que o diploma, como tal, já parte de uma boa reflexão
sobre esta matéria.