26 DE OUTUBRO DE 2018
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todos os portugueses, incluindo os do interior, o pagamento de um suplemento ao ISP (imposto sobre os
produtos petrolíferos e energéticos).
Olhemos, por exemplo, para o Fundo Ambiental ou para a taxa de recursos hídricos (TRH). Os recursos são
gerados no interior, mas para onde é que vai o Fundo Ambiental? Vai para os transportes públicos de Lisboa e
do Porto, vai, essencialmente, ajudar à mobilidade no Porto e em Lisboa. Não quero fazer um discurso do interior
versus Porto e Lisboa, o que quero é medidas equilibradas e que, por exemplo, o direito a passes sociais para
Lisboa e Porto seja estendido ao interior, onde, atualmente, nem sequer há transportes.
Digo-lhe mais, Sr.ª Deputada: a Ferrovia 2020 está a 5% de execução. A Sr.ª Deputada dirá: «Bom, mas em
Castelo Branco, na Covilhã e na Guarda já existe obra feita!» Pois! E, quanto à ligação entre a Linha da Beira
Baixa e a Linha da Beira Alta, existe obra feita? E, na Linha do Douro, existe obra feita ou Portugal acabou por
perder fundos, pondo em causa a Linha do Douro?! O que é feito da ligação Aveiro-Salamanca, que, segundo
o estudo da CIP (Confederação Empresarial de Portugal), é importante não só para a economia do interior mas,
essencialmente, para o País?! Não há um único ponto no Orçamento para isso.
Sr.ª Deputada, termino com esta pergunta: relativamente à ligação das áreas empresariais às grandes vias
rodoviárias, que o Governo veio dizer que era a última medida para ajudar as empresas no interior, tirando os
dois últimos anúncios feitos esta semana, o que é que está no terreno e o que é que está concluído, tendo em
conta que a vossa promessa era a de que estaria concluída em 2017? Diga lá, para percebermos como é que
este Governo falha, como é que este Governo engana, como é que este Governo vem com uma mão cheia de
nada para o interior.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — A Mesa admitiu ainda a inscrição do Sr. Deputado Luís Leite Ramos,
para pedir esclarecimentos à Sr.ª Deputada Hortense Martins, que responderá em conjunto aos dois Srs.
Deputados.
Tem, pois, a palavra, Sr. Deputado.
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr.ª Deputada Hortense Martins,
ouvi com muita atenção a sua intervenção — atrevo-me até a dizer que não foi uma intervenção, foi mais um
exercício de propaganda eleitoral — …
Vozes do PSD: — Muito bem!
A Sr.ª Hortense Martins (PS): — Oh!
O Sr. Luís Leite Ramos (PSD): — … e notei, particularmente, as virtudes, as benesses, os milagres que a
Sr.ª Deputada encontra no Orçamento para 2019, naquilo que diz respeito ao interior.
Nada de novo, portanto, Sr.ª Deputada! Há três anos que ouvimos, sem surpresa, este foguetório palavroso
e estes discursos piedosos sobre o interior e estamos habituados, sobretudo, a estes fardos de coisa nenhuma,
embrulhados em cetim rosa.
Mas vamos aos factos e aos números, Sr.ª Deputada.
Refiro dois números, em particular, que, de alguma forma, desmontam categoricamente a sua falácia
relativamente ao interior: o seu Governo, o vosso Governo, promete dar, em sede de IRC, 40 milhões de euros
às empresas que se queiram instalar no interior; mas o mesmo Governo vai dar 82 milhões de euros — 82
milhões de euros, Sr.ª Deputada, mais do dobro! — para os transportes urbanos do Porto e de Lisboa, com base
num Fundo Ambiental que deveria ser partilhado por todo o País. Estes dois números são indiscutíveis e
mostram-nos exatamente qual é a vossa conceção e visão sobre a coesão territorial. Aliás, acho que era ao
número relativo aos transportes do Porto e de Lisboa que o Ministro Centeno se queria referir, quando disse que
o Orçamento para 2019 estava vestido de Prada — de Prada está vestido o orçamento para o litoral, porque
muito pouco chega ao interior.