I SÉRIE — NÚMERO 43
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Uma avaliação deste tipo, como tem vindo a ser sugerida pela Rede Europeia Anti-Pobreza, é uma forma de
reforçar uma perspetiva multidimensional no combate à pobreza e na sua erradicação e de garantir que todas
as políticas e atos legislativos nacionais são avaliados quanto ao seu previsível impacto — positivo, neutro ou
negativo.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Atenção ao tempo, Sr. Deputado.
O Sr. JoséMouraSoeiro (BE): — Terminarei, Sr. Presidente.
O Bloco de Esquerda apresentou, há uma semana, um projeto que visa, justamente, que haja um debate
anual sobre a pobreza na Assembleia da República, como é proposto por esta petição, mas que haja também
uma avaliação prévia do impacto sobre a pobreza de todas as ações desta Assembleia.
Entendemos que, assim, erradicar a pobreza passa a ser não apenas um objetivo nem uma política setorial
mas uma preocupação de todas as políticas deste Parlamento e dos nossos atos concretos.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Srs. Deputados, no final do ponto anterior, por lapso, não foi anunciado
— passo a fazê-lo agora — que deram entrada na Mesa propostas de alteração ao Decreto-Lei n.º 54/2018,
apresentadas pelo CDS-PP, pelo PSD, pelo BE e pelo PCP, que baixam à 8.ª Comissão para apreciação na
especialidade.
Retomando o curso deste debate, tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Diana Ferreira, do
PCP.
A Sr.ª DianaFerreira (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Gostaria de saudar, desde
já, em nome do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, o Movimento Erradicar a Pobreza e os
seus representantes, aqui presentes, a assistir à discussão desta petição, bem como os milhares de peticionários
que a subscreveram e que convocam, assim, a Assembleia da República a debruçar-se sobre fenómenos tão
importantes como a pobreza e a exclusão social, que continuam a ser realidades vividas por centenas de
milhares de famílias e, aliás, como identificam os peticionários, por mais de 2 milhões de pessoas no nosso
País.
Embora haja, estatisticamente, uma redução da taxa do risco de pobreza, como é possível identificar na
análise que o Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza faz sobre os dados provisórios do inquérito às
condições de vida e rendimentos, realizado em 2018, uma realidade que não está desligada do caminho de
reposição de direitos e rendimentos pelo qual o PCP se tem batido, é preciso ir mais longe no combate à pobreza
e à exclusão social com vista à sua efetiva erradicação.
A pobreza e a exclusão social não são inevitabilidades, são realidades que resultam de diversos fatores e
que resultam de opções políticas de décadas profundamente ligadas à injusta distribuição da riqueza e ao
processo de concentração de riqueza que vários governos, ao longo de muitos anos, têm promovido.
Atualmente, 1% da população detém cerca de 25% da riqueza nacional e 5% da população acumula quase
50% da riqueza nacional, o que é profundamente revelador das enormes desigualdades sociais que persistem.
Esta é uma das causas fundamentais e estruturais que importa ter sempre em conta aquando da tomada de
decisões e da discussão sobre estas matérias.
Este flagelo social tem também na sua origem os baixos salários — aliás, importa aqui lembrar que há
trabalhadores que, recebendo o seu salário, se encontram em situação de pobreza –, mas também situações
de desemprego, de precariedade, de insuficiente proteção social, de aumento do custo de vida em bens e
serviços essenciais.
Por isso, o PCP tem afirmado, intervindo nesse sentido, que o combate à pobreza e à exclusão social tem
de ser feito intervindo nas suas causas, sem prejuízo de medidas de emergência social que tenham de ser
tomadas.
O caminho para a erradicação da pobreza é inseparável da criação de emprego com direitos, da dinamização
da produção nacional, do aumento geral dos salários, designadamente do salário mínimo nacional, como o PCP