7 DE MARÇO DE 2019
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que aquilo que a União Europeia chama de desinformação acarreta para os valores defendidos e para a ação
externa da União Europeia e da NATO.
Ora, vai muito mal por aí, porque, efetivamente, este plano de ação assume um inimigo, o diabo russo, ou
seja, a influência da Rússia nas eleições norte-americanas, a influência da Rússia no Brexit, a influência da
Rússia naquilo que está por vir. Em todas as eleições até 2020 há um espectro, que é a ameaça russa.
Parece-nos que essa é, apesar de não ter quaisquer elementos sobre a capacidade russa nesta matéria,
uma visão pelo menos redutora, sobretudo quando vemos um senhor chamado Steve Bannon, que se passeia
pelo mundo afirmando-se como o grande mentor do Presidente dos Estados-Unidos nas redes sociais, o grande
mentor da operação que levou Bolsonaro ao poder, no Brasil, e o grande mentor da extrema-direita em Espanha,
ufanando-se já de que, graças a ele e à sua grande capacidade de criação e disseminação de fake news, a
extrema-direita vai ter um grande sucesso em Espanha. Isto é extremamente preocupante. E aí a União
Europeia, quanto ao senhor Steve Bannon, coloca-se do mesmo lado da barricada, porque ele está
supostamente a defender os mesmos valores que a União Europeia pretende proteger.
Por isso é que este não é um bom plano de ação, porque não equaciona verdadeiramente a necessidade de
defender os valores democráticos, bem pelo contrário. A ideia que se dá é a de que a União Europeia pretende
reservar para si a mentira oficial e criticar tudo aquilo que possa pôr em causa a ideia de que o projeto europeu
é um «projeto maravilha», apontado à humanidade.
Seria bom que houvesse na União Europeia uma preocupação com a difusão de falsidades através da
comunicação social, mas, infelizmente, nesse plano de ação não é isso que vemos. No plano de ação, aquilo
que vemos é uma tentativa de impor uma versão oficial e rotular tudo aquilo que a contrarie, o que é muito
diferente da preocupação que nos devia trazer a este debate.
Portanto, quer-nos parecer que esta iniciativa do PS não é um bom contributo para um tema que seria muito
importante ser discutido com seriedade.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — O Sr. Deputado tem um pedido de esclarecimento. Já não tem
tempo para responder, mas, ainda assim, dou a palavra à Sr.ª Deputada Margarida Marques, se a quiser. Uma
coisa posso dar como garantida: não vai ter uma fakeanswer, porque não vai ter answer nenhuma.
Risos.
A Sr.ª Margarida Marques (PS): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas, Srs. Deputados, a intervenção que o
Sr. Deputado António Filipe acabou de fazer tem dois aspetos que acho interessante salientar: um primeiro
aspeto tem a ver com a legislação existente, com a capacidade e a resistência da legislação existente para lidar
com um conjunto de realidades, designadamente do domínio da imprensa, em particular naquelas que poderão
ser consideradas crime.
Essa legislação efetivamente existe e não estamos a propor nova legislação.
Vozes do PS: — Muito bem!
A Sr.ª Margarida Marques (PS): — Agendámos este debate, e é importante que ele se faça, pelo segundo
aspeto da questão levantada pelo Sr. Deputado António Filipe.
Dizia o Deputado Carlos Coelho, em novembro de 2018, o seguinte: «Não somos ingénuos e sabemos que
são muitas as forças externas — políticas, estatais, económicas e militares — que querem condicionar o
processo eleitoral, seja através de fake news, da utilização de grandes quantidades de dados para manipulação
eleitoral ou através de financiamentos a partidos extremistas que querem destruir o projeto Europeu».
O Sr. José Magalhães (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Margarida Marques (PS): — Li expressamente esta declaração do Deputado Carlos Coelhos para
lembrar aos Srs. Deputados do PSD que é aqui que a questão efetivamente se coloca: na defesa da democracia