30 DE MARÇO DE 2019
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O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O PSD entende que medidas como
a redução do tarifário dos passes sociais são necessárias, por isso bem-vindas, à luz da promoção da mobilidade
e do patrocínio do cumprimento das metas ambientais a que Portugal se vinculou.
O reforço da mobilidade e a era da descarbonização são dos maiores desafios na nova economia, num
esforço de substituição do transporte individual pelo transporte público, a favor da qualidade de vida dos
cidadãos. É, por isso, inequívoca a posição do PSD a este respeito e desfeita qualquer dúvida que
maldosamente pairasse.
Em suma, somos a favor, estamos de acordo, só lamentamos que não seja para mais portugueses e
lamentamos, ainda, que a oferta de transportes não tenha ao seu serviço a frota adequada, em quantidade e
qualidade, para dar as respostas necessárias.
Aquando da discussão do Orçamento do Estado, o PSD apresentou propostas de alteração na especialidade
com vista a assegurar que os benefícios não se esgotassem nas áreas com grande densidade populacional,
onde se concentram as maiores oportunidades e recursos, mas que esta iniciativa se constituísse como uma
força transformadora de mobilidade para áreas de menor densidade, periféricas e nas quais se enfrenta um
penoso inverno demográfico, zelando, deste modo, pela coesão e atratividade desses territórios.
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Muito bem!
O Sr. Cristóvão Norte (PSD): — O PSD não descura os benefícios que da mesma vão resultar. Apoiamo-
los, mas entende, porém, que esta medida tem que ser boa para todos e não para uma parte, justa para todos
e não só para alguns, exequível para todos e não para menos do que aqueles que se proclama.
Aplausos do PSD.
Ora, para obter esse resultado, a medida boa, justa e exequível para todos, o Governo, por opção
premeditada, agiu, vezes de mais, em sentido oposto: reduziu o investimento público em 3000 milhões de euros
por comparação a 2015, exemplo maior os 9 % de concretização da Ferrovia 2020 e a previsão de 80 % dos
investimentos previstos pelo anterior Governo transitarem para a proposta do Programa Nacional de
Investimento 2030, a qual é, porventura, a mais inesperada mas honesta confissão de falhanço da Legislatura.
Esta foi a escolha consciente e deliberada do Governo, não o resultado de qualquer infortúnio ou do mero acaso.
Fique claro: não teria sido a nossa.
Agiu em sentido oposto porque a revisão do tarifário devia ser antecedida ou, pelo menos, acompanhada por
investimento, para não enfrentarmos episódios caricaturais como os da locomotiva que perde o motor, dos
barcos que são invadidos pelos utentes, dos autocarros e elétricos a abarrotarem e sem horários, do metro que
só se apanha à terceira em hora de ponta. A aposta na oferta, na comodidade e no reforço da qualidade ficou
para trás. A inexistência ou tremenda insuficiência da oferta são obstáculos insuperáveis a que muitos
portugueses que vão pagar a medida venham a beneficiar dela. E isso está resolvido amanhã? Não! A resposta
para mais barcos é: está em concurso! Para mais autocarros é: está em concurso! Para a substituição do
material circulante a resposta, invariavelmente, é: está em concurso! Mas é para o mês que vem? Não, é para
2021, para 2022, para 2023. Mas quando entra em vigor a medida? Agora!
Sabemos, isso sim, que há uma brutal e fundada desconfiança dos cidadãos em relação aos transportes
públicos e que as queixas aumentaram, segundo os últimos dados de 2017, mais de 38 %. Estas queixas são
os gritos de frustração e de desesperança de quem se confronta com situações penosas, às quais o Governo
abdicou de dar resposta e cuidar de resolver.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, esta não pode, não deve ser uma medida para que seja mais barato
a quem adquira o passe social ficar à espera do comboio que não vem, do autocarro que não passa, do barco
que não navega.
Aplausos do PSD.