I SÉRIE — NÚMERO 79
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O Sr. Presidente da Assembleia da República: — Está a criar uma luta de todos contra todos, uma lógica
de salve-se quem puder, uma preocupante ausência de empatia humanista. É preciso recuperar o sentido do
coletivo, do bem-comum, do espaço público.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Presidente da Assembleia da República: — Não são só o Parlamento e os partidos políticos que têm
de se abrir a esse despertar da cidadania. São também os parceiros sociais, as centrais sindicais, que devem
compreender que, sem inclusão, participação ativa dos associados e justiça nas reivindicações, a tendência
para a fragmentação e para o reforço dos interesses com pequena dimensão, mas grande poder, será
dificilmente reversível.
Minhas Senhoras e Meus Senhores: Combater todas as formas de desigualdade e discriminação foi um dos
propósitos fundadores do 25 de Abril. Por isso, nesta última Sessão Legislativa, deixo aqui um desafio para a
próxima Legislatura: que consigamos ser tão exigentes com os efeitos sociais das políticas públicas como somos
quanto ao seu efeito económico e financeiro.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Presidente da Assembleia da República: — Que, além das várias instituições que zelam pelo rigor
orçamental, surjam no espaço público as vozes daqueles que têm menos voz: a voz dos mais pobres, a voz de
todas as vítimas da discriminação social.
Aplausos do PS.
Sr. Presidente da República, não posso terminar sem aproveitar a presença de V. Ex.ª neste Hemiciclo para
enaltecer uma vez mais a forma como tem prestigiado o sistema democrático português.
Uma democracia não sobrevive sem democratas, sem solidariedade entre instituições e órgãos de soberania.
V. Ex.ª é um exemplo de lealdade democrática, numa relação com o Parlamento que só enaltece o prestígio
de ambos os órgãos de soberania. Nenhum é condicionável e os dois têm disso consciência.
V. Ex.ª tem sido uma muralha simbólica contra o crescimento do populismo, pelo papel decisivo e essencial
que tem assumido durante a sua Presidência.
A história ensina-nos que nenhum partido político democrático beneficia dos ambientes de radicalização,
insulto e manipulação.
Minhas Senhores e Meus Senhores: Em ano eleitoral deixo, pois, um apelo aos líderes políticos e
parlamentares, que é o de que sejam capazes de travar um debate franco e leal, baseado em alternativas
políticas claras.
A política democrática é essencialmente isso: um confronto tolerante entre interesses sociais e programas
políticos conflituantes.
A política de casos é a arma dos fracos, daqueles que não têm ideias nem alternativas.
Aplausos do PS e de Deputados do PSD.
Não resolve os desafios estruturais do País nem os problemas concretos das pessoas. Só serve para minar
a democracia e envenenar a vida pública.
Às tentativas de degradação do espaço público, respondamos com a exemplaridade republicana e com a
convicção democrática!
Aplausos do PS e do Deputado não inscrito Paulo Trigo Pereira.
Ao desprezo pelo conhecimento e pela cultura, respondamos com o confronto democrático dos argumentos.