I SÉRIE — NÚMERO 88
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O Sr. Presidente: — Sr. Deputado Álvaro Castello-Branco, do Grupo Parlamentar do CDS-PP, tem a palavra
para pedir esclarecimentos.
O Sr. Álvaro Castello-Branco (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e
Srs. Deputados, as alterações climáticas e as suas consequências têm vindo, felizmente, a ocupar um lugar
primordial nas preocupações das sociedades à escala mundial.
De facto, este é um problema e um desafio que deve ser assumido globalmente e combatido por todos.
Todos sabemos e todos temos a consciência da urgência da implementação de medidas, a nível global, para o
combate às alterações climáticas. No entanto, para além deste desígnio universal, cada país deverá estar à
altura de cumprir a sua quota-parte nas ações a desenvolver.
O anterior Governo, PSD/CDS, desenvolveu e implementou um conjunto de medidas e estratégias que
levaram ao reconhecimento internacional da liderança de Portugal no que ao crescimento verde e ao combate
às alterações climáticas diz respeito, liderança essa que, entendemos, o atual Governo não tem conseguido
manter.
O Sr. Ministro está a olhar para mim com um ar muito surpreendido, mas passarei a explicar!
O Sr. Ministro do Ambiente e da Transição Energética: — Com um ar atento!
O Sr. Álvaro Castello-Branco (CDS-PP): — De acordo com vários estudos e especialistas, os países do sul
da Europa, mediterrâneos, e Portugal em particular, têm um maior risco de desertificação, fruto de secas mais
frequentes e prolongadas. As alterações climáticas e a necessidade de adaptação e mitigação das mesmas têm,
por isso, de ser olhadas por Portugal como uma prioridade, pois o impacto dessas alterações já se faz sentir e
tudo indica que será ainda mais forte e intenso nos próximos anos, na próxima década.
Assim, em Portugal, a água, por exemplo, é e será um recurso ao qual teremos de dar toda a atenção,
independentemente das medidas para a redução das emissões carbónicas. Todos os indicadores apontam para
que haja períodos cada vez mais intensos e curtos de precipitação, acompanhados de períodos mais longos de
seca.
Sr. Ministro, as alterações climáticas colocam novos desafios aos sistemas que estão montados para
proteger cidadãos e ecossistemas de ameaças que eram menos intensas e frequentes do que aquelas que
agora existem e que é previsível que se venham a agravar.
Nesse sentido, é necessário que Portugal invista em investigação científica, que invista na qualificação dos
recursos humanos, que invista no equipamento das forças da proteção civil e que invista na formação das
populações.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Álvaro Castello-Branco (CDS-PP): — A questão que lhe quero colocar, Sr. Ministro, é no sentido de
saber a razão pela qual, perante esta gravíssima ameaça das alterações climáticas, o Governo português não
tem investido na investigação científica, privilegiando programas de resposta aos riscos, não tem investido na
qualificação dos recursos humanos, através da formação dos quadros e agentes existentes, não tem investido
convenientemente no equipamento das forças da proteção civil e porque não investe na formação das
populações, promovendo a sua formação para lidar com situações de risco.
O facto, Sr. Ministro, é que o Governo tem o discurso, mas não tem as medidas. O Sr. Ministro dizia, na sua
intervenção, «o nosso trabalho não começou agora» e, mais adiante, repetia-o, dizendo «mais do que palavras,
são precisas ações, e é isto que este Governo tem vindo a fazer». Pois, Sr. Ministro, é exatamente isto que este
Governo não tem vindo a fazer! O Governo tem discurso, mas não tem medidas, embora, deixe que lhe diga,
Sr. Ministro — para o deixar mais descansado —, não é só na área do ambiente, é em quase todas as áreas da
governação.
Sr. Ministro, este Governo nada faz para que Portugal possa enfrentar o futuro climático com mais
responsabilidade e com mais segurança, porque apenas está preocupado em fazer discursos corretos do ponto
de vista político e ambiental, mas com quase nenhuma ou mesmo nenhuma ação que nos permita, a todos nós,
enfrentar o futuro e este flagelo com a total tranquilidade que todos nós e os portugueses merecemos.